Guerra Rússia-Ucrânia

Os números da guerra na Ucrânia: os mortos, os feridos e os refugiados

Em 12 meses de ofensiva russa morreram milhares de civis, muitos outros milhares ficaram feridos. A ONU sublinha que estes números estão muito aquém dos reais.

Catarina Solano de Almeida

(Última atualização: 23-02-2023)

A 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin mobilizou as suas tropas para a Ucrânia para o que deveria ser uma operação relâmpago. Um ano de guerra depois, Kiev continua a resistir, mas o saldo é pesado: milhares de vidas perdidas, casas e infraestruturas destruídas, uma economia de rastos.

Enormes perdas civis e militares

Segundo a Noruega, são estes os números de perdas militares:

  • 180.000 mortos ou feridos entre os soldados russos
  • 100.000 mortos ou feridos entre os soldados ucranianos

Outras fontes ocidentais mencionam 150.000 baixas de cada lado.

Os termos “carnificina” ou “carne para canhão” são muitas vezes usado pelos ucranianos para caracterizar a estratégia russa, que envia para a linha da frente soldados mal treinados e que acabam por morrer às mãos das sólidas defesas ucranianas.

Milhares de prisioneiros russos também se juntaram às fileiras da milícia Wagner. Diz Kiev que são constantemente vigiados sob a mira das armas dos seus companheiros e estão proibidos de voltar à Rússia.

Do lado ucraniano, os múltiplos ataques russos levam a perdas significativas, militares e civis.

Por trás de cada número está uma pessoa

No total, em 12 meses de guerra terão perdido a vida entre 30.000 a 40.000 civis, mas estes números não são oficiais.

A ONU estima que, entre 24 de fevereiro de 2022 e 21 de fevereiro de 2023 o número de vítimas civis na Ucrânia ultrapassava 21.000 - 8.006 civis mortos e 13.287 feridos embora reconheça que "os números reais são consideravelmente mais altos". Entre os mortos contam-se 487 crianças e são 954 os menores feridos.

“Estes números revelam a perda e o sofrimento infligidos às pessoas desde o início do ataque armado da Rússia em 24 de fevereiro do ano passado; sofrimento que vi pessoalmente quando visitei a Ucrânia em dezembro. E os nossos dados são apenas a ponta do icebergue. As consequências para os civis é insuportável. A escassez de eletricidade e água durante os meses frios de inverno, quase 18 milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária. Cerca de 14 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas”, lamenta o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk.

A maioria dos civis morreu em bombardeamentos russos:

“Cerca de 90,3% das baixas civis foram causadas por explosivos com efeitos numa ampla área, incluindo projéteis de artilharia, mísseis de cruzeiro e balísticos e ataques aéreos. A maioria ocorreu em áreas populosas. A ONU registou também 632 vítimas civis – 219 mortos e 413 feridos – em resultado de minas e restos de explosivos".

Como em Dnipro, onde em meados de janeiro um ataque com míssil de cruzeiro contra um prédio de apartamentos matou pelo menos 45 pessoas, incluindo seis crianças. O Kremlin negou responsabilidade

Como em Mariupol, uma cidade portuária no sul que esteve três meses sob bombardeamento russo. Mais de 20.000 civis ucranianos morreram na batalha, que terminou em maio, estima Kiev.

Um outro elemento extremamente perigoso a longo prazo: as minas, espalhadas em 30% do território ucraniano, tanto por russos como por ucranianos.

A Human Rights Watch (HRW) afirma que Kiev colocou minas antipessoal na região de Izium, no leste do país.

Crimes de guerra

A guerra na Ucrânia ficará associada a imagens marcantes: os cadáveres de civis, alguns com as mãos atadas às costas, espalhados numa rua de Bucha, perto de Kiev, após a retirada das forças russas em abril. Um boneco de peluche ensanguentado na estação de Kramatorsk bombardeada enquanto milhares de civis tentavam sair. Uma maternidade atingida em Mariupol em março e a imagem de uma mulher grávida a ser levada de maca - acabou por não sobreviver.

Há cerca de 65.000 casos suspeitos de crimes de guerra, de acordo com o Comissário de Justiça da UE, Didier Reynders.

Execuções, violações, torturas e raptos de crianças (segundo Kiev, mais de 16.000 crianças foram levadas para a Rússia ou para uma área sob controlo russo) - são crimes atribuídos às tropas russas, acusadas em setembro por investigadores da ONU de terem cometido crimes de guerra em grande escala .

A Ucrânia também foi acusada de ter cometido crimes de guerra contra prisioneiros russos, mas não tem a ver em comparação com a dimensão dos atos atribuídos às forças em Moscovo.

O Tribunal Penal Internacional abriu em 2 de março de 2022 uma investigação sobre crimes de guerra e crimes contra a humanidade na Ucrânia.

A maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial

Segundo a ONU, os combates já forçaram cerca de 8 milhões de pessoas a deixar a Ucrânia e mais de 5 milhões estão deslocadas internamente.

A Polónia é um dos primeiros países de acolhimento destas populações desenraizadas, com mais de 1 milhão de pessoas.

As forças da ocupação russa afirmam que pelo menos 5 milhões de ucranianos deixaram o seu país para irem para a Rússia. Kiev fala em "evacuações forçadas".

1.500 km de frente de combate

O leste da Ucrânia evoca o imaginário da II Guerra Mundial. Soldados exaustos no fundo de trincheiras lamacentas, barulho incessante de artilharia, crateras gigantes provocadas por granadas, cidades destruídas e vilas arrasadas.

A linha da frente "ativa" estende-se por 1.500 km de norte a sul no leste da Ucrânia, de acordo com o chefe do exército ucraniano Valery Zalouzhny. Entre os pontos quentes, Bakhmout, descrito como "o inferno na terra" pelos combatentes ucranianos, tem sido alvo de uma batalha sangrenta desde o verão. As forças russas e os mercenários do grupo Wagner avançam, há várias semanas, a pouco e pouco.

Alguns milhares de civis ainda vivem nas cidades bombardeadas, enfiados em caves, sem água nem eletricidade, dependendo da ajuda humanitária entregue por corajosos voluntários.

Atrás da linha da frente, cidades como Kramatorsk não foram poupadas aos ataques. Quanto às áreas libertadas durante a contraofensiva ucraniana no outono, estão devastadas pela destruição e provavelmente mais tarde ou mais cedo cairão de novo às mãos dos russos.

As tropas de Moscovo ocupam cerca de 18% da Ucrânia, mas, segundo o general Zalouzhny, Kiev recuperou 40% dos territórios ocupados após a invasão de 24 de fevereiro.

Uma economia de rastos

Prédios em escombros, fábricas fechadas, infraestruturas destruídas, são imagens que podem ser vistas em todo o sul e leste da Ucrânia, onde os combates se concentraram desde que as forças de Moscovo falharam na conquista de Kiev em abril.

O custo é dramático para o país, cujo PIB encolheu 35% em 2022, segundo o Banco Mundial. A Escola de Economia de Kiev estimou em janeiro que o valor dos danos ascende a 138 mil milhões de dólares e mais de 34 mil milhões em perdas para a agricultura. A UNESCO contabiliza mais de 3.000 escolas e 239 locais culturais afetados.

Desde setembro, Moscovo visa sistematicamente as infraestruturas de energia. Em dezembro, quase metade estava danificada, mergulhando os ucranianos na escuridão e no frio.

Ajuda militar ocidental

Em abril, procissões de veículos militares ucranianos datados da era soviética, alguns dos quais verdadeiras antiguidades, atravessaram a Ucrânia em direção a Donbass, no leste. Perante esta falta de capacidade de resposta ao incessante ataque russos, as vozes levantaram-se em Kiev a exigir armamento ocidental.

Os pedidos acabaram por ser ouvidos. Em novembro, o Kiel Institute estimou que as promessas de ajudas militares ocidentais ascendiam a 37,9 mil milhões de euros. Os Himars americanos, lançadores múltiplos de mísseis com alcance de 80 km, muito superior ao dos equipamentos russos, terão contribuído para os avanços significativos da Ucrânia no outono, que conseguiu retomar grandes partes do seu território nas regiões de Kharkiv (nordeste) e Kherson (sul).

Em janeiro, o Ocidente decidiu entregar blindados ​​​​a Kiev, quebrando assim a primeira “linha amarela”. Enviar aviões para a Ucrânia, que muitos afirmam ser a “linha vermelha”, está agora a ser equacionada.

Com AFP

Últimas