Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: onze meses de guerra em onze palavras

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022. Germano Almeida, comentador SIC, analisa os últimos acontecimentos e os temas do momento.

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Germano Almeida

O resumo dos últimos acontecimentos na Ucrânia. Um artigo de Germano Almeida, comentador SIC, em dia em que a Guerra completa 11 meses, desde que a 24 de fevereiro a Rússia iniciou a invasão.

1 - INVASÃO. Um erro brutal de Putin, que mudou toda a nossa perceção de Segurança.

2 - KIEV. A batalha decisiva: os russos achavam que iam tomar a capital ucraniana facilmente. Falharam por completo.

3 - BUCHA. Momento de viragem na condenação internacional à Rússia, a par de Irpin e Borodyanka, com os horrores descobertos após a retirada russa dos arredores de Kiev.

4 - MARIUPOL. Depois de meses de bombardeamentos, o cerco a Mariupol fez lembrar Aleppo na Síria: vitória russa à custa de destruição total.

5 - DONBASS. À custa de muitas centenas de baixas por dia, e depois de semanas de batalhas intensas, a Rússia tomou Severodonetsk e Lysychansk, quase fechou a província de Lugansk, mas no Donetsk tudo ficou em aberto.

6 - KHARVIV. A grande vitória da contraofensiva ucraniana até agora. Teve seguimento parcial em Kherson, mas não voltou a acontecer em escala equivalente.

7 - ANEXAÇÃO. Os referendos em quatro regiões ucranianas, absolutamente ilegais, levaram a declarações de anexações sem validade em Kherson, Zaporíjia, Donetsk e Lugansk, no final de setembro.

8 - KHERSON. Num processo longo e por vezes misterioso, os russos levaram semanas a passar da margem direita para a esquerda do rio Dnipro, primeiro retirando civis e funcionários, depois os militares e seu equipamento.

9 - CRIMEIA. Os drones ucranianos sobre Sebastopol não tinham só a Frota Russa do Mar Negro como alvo: foram a demonstração de que Zelensky quer mesmo recuperar territórios ocupados por Moscovo pré-24 de fevereiro.

10 - INFRAESTRUTURAS. A Rússia ataca de novo pelo ar – dezenas de barragens de mísseis desde 10 de outubro, quase sempre às segundas; com intenção de desmoralizar os civis ucranianos, tornar a vida do dia a dia impossível na Ucrânia.


11 - LEOPARD. A hesitação alemã adia o que parece ser cada vez mais inevitável: a coligação Ocidental sente que é a altura de fornecer a Kiev os melhores carros de combate com poder de ataque.

E ainda cinco temas do momento:

TEMA 1 – TRÊS DEMISSÕES EM KIEV EM MENOS DE 24 HORAS

Zelensky tinha prometido e está a cumprir. Três figuras do poder ucraniano demitiram-se em poucas horas: o vice-ministro da Defesa, o vice-chefe do gabinete do Presidente e o vice-procurador-geral. Vyacheslav Shapovalov, vice-ministro da Defesa ucraniano, demitiu-se, citando “acusações dos media” de corrupção, que, tanto ele, como o ministério, afirmam ser infundadas. Já ontem, Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do gabinete de Zelensky, anunciou também a sua saída. O Vice-procurador geral ucraniano, Oleksiy Symonenko, também foi demitido. As demissões surgem depois de Zelensky anunciar tolerância zero para a corrupção. No sábado, 22 de janeiro, Vasyl Lozynski, que era vice-ministro das Infraestruturas para as Comunidades e Território, foi detido por suspeitas de ter recebido um suborno de 400 mil dólares para beneficiar uma empresa, durante a aquisição de geradores e foi demitido.

TEMA 2 – UCRÂNIA NEGA AVANÇOS RUSSOS EM ZAPORÍJIA

Kiev garante que tentativas de Moscovo a sul foram repelidas. E o Instituto para os Estudos da Guerra acompanha a análise: “Forças russas conduziram provavelmente uma operação ofensiva fracassada na região de Zaporíjia nas últimas 72 horas". O Instituto para o Estudo de Guerra acrescenta que as tropas do Kremlin “não obtiveram nenhum ganho territorial confirmado no setor, apesar das reivindicações contínuas de um funcionário da ocupação russa”.

Entretanto, os veículos de combate Bradley, norte-americanos, já estão a caminho da Ucrânia e devem chegar nas próximas semanas. O diretor do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, afirmou que a Ucrânia necessita de “centenas de tanques e não 10 ou 20” para fazer frente à agressão russa para que se possa regressar às fronteiras de 1991. “É por isso que cada tanque capaz de combater deve estar na frente [de combate] , porque esta não é apenas a frente ucraniana, mas sim a frente da civilização contra a barbárie”, acrescentou, salientando que o objetivo comum da democracia é “garantir um desenvolvimento estável”.“ O nosso objetivo comum é lutar contra a autocracia para garantir um desenvolvimento estável e uma ordem mundial. Sem uma vitória ucraniana nada disto será possível”, concluiu Yermak

|| Ucrânia vai "pagar o preço" se Ocidente fornecer tanques Leopard, ameaça Kremlin: Moscovo já reagiu aos novos desenvolvimentos no impasse sobre o fornecimento dos tanques de fabrico alemão à Ucrânia, com uma série de países a pressionar Berlim. “Todos estes malabarismos jurídicos que vemos, a troca de declarações entre as capitais europeias...Vemos como algumas capitais europeias, incluindo Varsóvia, ameaçam isolar Berlim internacionalmente”, considerou Dmitry Peskov.

TEMA 3 – ALTERAÇÃO NA ESTRUTURA DAS FORÇAS ARMADAS RUSSAS SINALIZA AVALIAÇÃO DE “AMEAÇA MILITAR PARA MUITOS ANOS”

A Rússia vai implementar um plano de “grandes mudanças” para reformular as Forças Armadas e as novas medidas consideram um detalhe importante: uma possível expansão da NATO. Valery Gerasimov, recentemente nomeado comandante das operações na Ucrânia, revelou que o plano pode ser ajustado com o surgimento de novas ameaças, incluindo a adesão da Finlândia e a Suécia à NATO. O Ministério da Defesa do Reino Unido alerta para alteração à estrutura das Forças Armadas da Rússia. Esta mudança foi anunciada a 17 de janeiro pelo ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu e deverá ser implementada até 2026. Os planos incluem a expansão de pessoal nas Forças Armadas para 1,5 milhões, “um aumento de 11% face à anterior expansão anunciada de 1,35 milhões”. O Ministério britânico refere que estes “planos sinalizam que a liderança da Rússia estará muito provavelmente a avaliar que uma ameaça militar convencional melhorada vá durar muitos anos além da atual guerra na Ucrânia”. “No entanto, a Rússia irá provavelmente ter dificuldade em ter pessoas e equipamento para a expansão planeada.”

TEMA 4 – FINLÂNDIA ADMITE PELA PRIMEIRA VEZ A ADESÃO À NATO SEM A SUÉCIA

“A Finlândia deve considerar a hipótese de aderir à NATO sem a Suécia, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês depois de o presidente da Turquia ter excluído o apoio de Ancara à candidatura sueca. A adesão conjunta dos dois países nórdicos é a "primeira opção", mas "nós devemos avaliar a situação" caso "alguma coisa venha a impedir a Suécia de avançar", disse o chefe da diplomacia finlandesa à televisão pública Yle, da Finlândia. Mesmo assim, o ministro dos Negócios Estrangeiros adiantou que "ainda é demasiado cedo para se tomar uma posição". É a primeira vez que Helsínquia admite uma nova forma de adesão à Aliança Atlântica, sem a Suécia.

TEMA 5 – MARROCOS SERÁ O PRIMEIRO ESTADO AFRICANO A FORNECER AJUDA À UCRÂNIA

Os EUA convenceram Marrocos a entregar tanques T-72B modernizados e peças de reposição para Kiev. Marrocos fornecerá à Ucrânia peças sobressalentes para tanques T-72 e, assim, se tornará o primeiro Estado africano a fornecer assistência militar à Ucrânia. Além das peças sobressalentes, os tanques T-72B modernizados pela empresa tcheca Excalibur Army e destinados a Marrocos serão desviados para a Ucrânia. A compra de tanques “africanos” para embarque para a Ucrânia é paga pelos EUA e Países Baixos, sob um acordo totalizando pouco mais de 90 milhões de euros. Os primeiros cinco MBT serão recebidos na próxima semana e, até ao final do ano, está previsto preparar 18 unidades para embarque. No total, 90 T-72 MBT “africanos” devem ser entregues à Ucrânia, além de outros 30 MBT opcionais, que serão adquiridos no próximo ano.

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