Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: reforço à Ucrânia, pressão sobre a Alemanha

O resumo dos últimos acontecimentos na Ucrânia. Um artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Os vestígios de um ataque num apartamento em Dnipro, na Ucrânia
CLODAGH KILCOYNE

Germano Almeida

1 - MINISTRO DO INTERIOR DA UCRÂNIA MORRE EM QUEDA DE HELICÓPTERO

Denys Monastyrsky está entre os 18 mortos no acidente que ocorreu perto de um parque infantil em Brovary. Pelo menos três crianças estão entre as vítimas mortais.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, instruiu o Serviço de Segurança da Ucrânia e outros órgãos relevantes a apurar as circunstâncias da queda do helicóptero nos arredores de Kiev e que causou "uma tragédia", com uma lista de mortos que incluiu o seu ministro dos Assuntos Internos, Denys Monastyrskyi, além do primeiro vice-ministro, Yevgeny Yenin, e também o Secretário de Estado do Ministério dos Assuntos Internos Yuriy Lubkovich: "Hoje, uma terrível tragédia ocorreu em Brovary, região de Kiev. Um helicóptero do Serviço de Emergência do Estado caiu, e um incêndio começou no local do acidente. Instruí o Serviço de Segurança da Ucrânia, em cooperação com a Polícia Nacional da Ucrânia e outros órgãos autorizados, a descobrir todas as circunstâncias do que aconteceu", relatou Zelensky.

O procurador-geral da Ucrânia, Andrey Kostyn, admitiu hoje que "se consideram todas as opções" sobre a queda de um helicóptero na região de Kiev que provocou a morte de 18 pessoas, incluindo o ministro do Interior e três crianças.

"Os investigadores e especialistas estão a trabalhar neste momento no local da tragédia. Estão a adotar-se medidas urgentes de investigação. Por enquanto, consideramos todas as opções possíveis sobre o acidente do helicóptero".

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, lamentou a morte de "um grande amigo da UE".

2 – PUTIN DISCURSA EM SÃO PETERSBURGO


Putin poderá aproveitar um discurso que vai fazer esta quarta-feira em São Petersburgo para anunciar uma segunda mobilização, de modo a reforçar as fileiras de soldados para combater na Ucrânia, admite o think tank norte-americano Instituto para os Estudos da Guerra.

"Putin poderá anunciar uma segunda mobilização para expandir o seu exército nos próximos dias, possivelmente já no dia 18 de janeiro", ou seja, esta quarta-feira, diz o ISW. É esta quarta-feira que a Rússia assinala o dia que marca os 80 anos desde o fim do cerco de Leningrado. Não se exclui que fale finalmente em guerra. Para já, Lavrov fez um discurso em que acusa EUA e Ucrânia de "guerra híbrida" contra a Rússia e em que acusou o Ocidente de ter comportamentos equivalentes a Hitler e Napoleão em querer "derrubar a Rússia".

3 – NATO APOSTA NA MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA

O presidente do Comité Militar da NATO, o almirante Robert Bauer, insistiu na necessidade de investir na aliança militar e na sua modernização tecnológica para estar preparada para a guerra dos "bits e 'bots'", na abertura da uma reunião dos responsáveis militares dos Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), na sede da organização, em Bruxelas.

O almirante da Marinha dos Países Baixos lembrou que há um ano ainda era possível discutir com os responsáveis militares russos, mas "um ano mais tarde, o mundo é um lugar diferente". A NATO entrou numa "era para a qual está preparada", em que a guerra não é feita apenas nas trincheiras, por isso apelou à modernização das capacidades tecnológicas de Defesa dos Estados-membros.

"Estamos preparados para aumentar a nossa presença quando e onde for necessário, e mostrámos que não somos mais do que uma aliança militar de segurança. Numa base diária encontramos consenso entre 30, daqui por um tempo 32, nações e garantimos que o que é politicamente desejável é militarmente concretizável", acrescentou Bauer, não antecipando o que poderá ser decidido sobre o reforço do apoio militar a Kiev e sobre o papel que a NATO vai continuar a desempenhar no conflito. Nesta primeira reunião do Comité Militar da NATO em 2023 também foram convidados países como a Suécia e a Finlândia. O presidente do comité militar da NATO, o almirante Rob Bauer, presidirá a reunião em Bruxelas do órgão militar máximo da aliança máximo. Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, irá participar no primeiro dia de trabalhos, prevendo-se que forneça objetivos atualizados sobre os desafios de segurança que o mundo enfrenta, em particular com a guerra na Ucrânia.

Ontem, os generais Mark Milley e Valery Zaluzhny, chefes de forças armadas de Washington e Kiev, encontraram-se na Polónia, depois de os números dois do Departamento de Estado (Wendy Sherman), Pentágono (Colin Kahl) e Conselho de Segurança Nacional (Rob Finer) terem estado em Kiev com os ministros ucranianos dos Negócios Estrangeiros, Defesa e Infraestruturas. A reunião de sexta-feira em Ramstein, do Grupo de Contacto de apoio à Ucrânia será decisiva para definir os pormenores da nova fase de apoio militar a Kiev.

4 – AVIÕES DE VIGILÂNCIA ESTACIONAM NA ROMÉNIA

Dois dos três aviões de vigilância da NATO implantados temporariamente na Roménia chegaram a uma base aérea perto de Bucareste, de onde farão missões para monitorizar a atividade militar russa perto das fronteiras da aliança militar de 30 nações. Os aviões do Sistema de Alerta e Controlo Aerotransportado aterraram na base aérea de Otopeni, onde deverão manter-se estacionados por várias semanas. A aeronave AWACS, que a NATO chama de "olhos no céu", pertence a uma frota de 14 aeronaves geralmente baseada no oeste da Alemanha. Têm grandes sistemas de radar montados na fuselagem e podem detetar aeronaves a centenas de quilómetros de distância.

5 – UCRÂNIA PRODUZ PROJÉTEIS PARA COMPENASAR FALHAS DE STOCKS DOS ALIADOS

A Ucrânia decidiu começar a produzir, de forma independente, no seu complexo militar-industrial, projéteis do tipo dos que são utilizados na artilharia de fabrico soviético. Trata-se da produção de munições de calibre 122 mm e 152 mm. São escassas, porque os países parceiros que tinham estas munições nos seus armazéns, há muito esgotaram os 'stocks' nos seus armazéns. Antony Blinken, conversou ao telefone com o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, e destacou o apoio "duradouro e inabalável" à Ucrânia.

"Os dois concentraram-se em continuar com uma segurança robusta e uma assistência económica antes e depois do primeiro aniversario em [24 de] fevereiro da invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia", adiantou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. Na semana passada, Blinken, autorizou um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia de mais de três mil milhões de dólares, que pela primeira vez inclui algumas dezenas de veículos de combate de infantaria Bradley. O pacote totaliza cerca de 3,75 mil milhões de dólares.

6 – SERVIÇOS SECRETOS UCRANIANOS ALERTAM PARA NOVA MOBILIZAÇÃO RUSSA

Os serviços secretos ucranianos alertam que a Rússia está a preparar uma nova mobilização, depois de ter conseguido aumentar o seu exército com quase 300 mil mobilizados. O objetivo será criar um exército de dois milhões de pessoas e os preparativos.

Oleg Reznikov, ministro da defesa ucraniano, avançou à BBC: "500 a 600 soldados russos morrem todos os dias". A primavera será uma fase intensa de combates. Do lado ucraniano, as perdas serão um décimo das russas, afirmou o ministro — uma alegação que não pode ser confirmada de forma independente. Sobre a primavera, Reznikov acredita que será o momento em que os combates irão intensificar-se. A Rússia "está a reunir forças, munições e armamento" para uma grande ofensiva. A Ucrânia fará o mesmo.

7 – TROPAS UCRANIANAS "MUITO PROVAVELMENTE" SAÍRAM DE SOLEDAR

É "muito provável" que as tropas ucranianas se tenham retirado de Soledar, cidade no leste da Ucrânia, segundo o relatório diário do Ministério da Defesa britânico. As forças militares russas e o Grupo Wagner terão o controlo da zona que esteve no centro de combates intensos nas últimas semanas. O Conselho de Segurança Nacional dos EUA desvaloriza a influência de Soledar na guerra: "Mesmo que tanto Bakhmut como Soledar caiam nas mãos dos russos, isso não terá um impacto estratégico na guerra em si", afirmou o porta-voz do conselho nacional de segurança americano, John Kirby.

8 – BERLIM HESITA EM RELAÇÃO AOS LEOPARD 2

A entrega à Ucrânia de tanques de guerra Leopard 2 por parte da Alemanha constitui uma ajuda essencial na resistência à invasão russa, mas Berlim não quer, e não deve, ficar sozinha nesta estratégia, defendem analistas alemães.

O Governo da Alemanha mostrou-se disponível, nas últimas semanas, para entregar centenas de tanques de guerra Leopard 2 a Kiev, mas o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, já disse que o seu país "não pode estar sozinho" no fornecimento deste tipo de equipamento pesado de guerra. O Leopard 2 é considerado um tanque mais resistente que os modelos que a Polónia tem enviado, possuindo uma hipótese superior de sobreviver ao impacto de ataques.

"Os tanques Leopard 2, combinados com veículos de combate de infantaria (como o Marder da Alemanha ou o Bradley produzido nos EUA), artilharia e apoio aéreo, bem como recursos de defesa aérea, permitem que as Forças Armadas da Ucrânia conduzam a defesa móvel e a manobra ofensiva para se libertar da ocupação russa.

Há grande expectativa quanto ao novo ministro da Defesa, Boris Pistorius, nomeado ontem por Scholz, após a demissão na segunda-feira da sua antecessora, Christine Lambrecht. Pistorius é um político "experiente", que trará "a força e a calma necessárias nestes tempos" para a tarefa de modernizar as forças armadas alemãs, destacou Scholz, em reação à nomeação.

Poucos dias depois do início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, o próprio Scholz anunciou perante o Bundestag um pacote de investimentos de 100.000 milhões de euros para atualizar o Exército alemão, após décadas de cortes orçamentais. A Alemanha já enviou vários materiais militares para a Ucrânia, incluindo carros de defesa blindados Gepard, prometeu enviar tanques Marder e começou a transferir três baterias do sistema de defesa antiaérea Patriot para a Polónia.

9 – LONDRES JUNTA-SE À "COLIGAÇÃO LEOPARD"

Ben Wallace, chefe da diplomacia dos EUA, juntou-se a colegas da Polónia e dos países bálticos na Estónia para montar uma tentativa final de pressionar a Alemanha a autorizar o envio de tanques Leopard 2 para a Ucrânia. A reunião da chamada "coligação Leopard" de países dispostos ou interessados em ver tanques ocidentais enviados a Kyiv ocorre um dia antes de um grupo de cerca de 50 ministros da Defesa se reunir em Ramstein, na Alemanha, para discutir futuros envios de armas para a Ucrânia.

Fontes de defesa disseram que o objetivo da reunião desta quinta-feira será a de "encorajar os alemães" se nenhuma decisão tiver sido tomada por Berlim antes disso. A Grã-Bretanha disse que doaria um esquadrão de 14 dos seus tanques Challenger 2 para Kyiv, mas esse número está bem abaixo do mínimo de 100 que os especialistas disseram que seriam necessários para permitir que as forças da Ucrânia consigam um avanço contra a Rússia. No entanto, existem mais de 2.300 tanques Leopard 2 disponíveis ou armazenados em toda a Europa em 13 países, incluindo a Alemanha, e se um grupo de países doasse alguns de seus tanques, isso poderia representar uma força significativa no campo de batalha. A permissão de Berlim é necessária para reexportar os tanques, uma vez que os Leopard 2 foram fabricados na Alemanha, que tem sido particularmente cautelosa ao fazer qualquer movimento que possa ser interpretado por Moscovo como uma escalada significativa.

Scholz vai no domingo, dia 22, a Paris, onde se encontrará com o Presidente Macron, a propósito dos 60 anos do Tratado do Eliseu, que marcou a reconciliação pós II Guerra Mundial entre Alemanha e França, assinado a 22 de janeiro de 1963.

10 – VON DER LEYEN: "RÚSSIA FALHOU NA CHANTAGEM"

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, a pôr o dedo na ferida: "A Rússia tentou chantagear-nos, mas falhou". Na abertura da presidência sueca da União Europeia, a presidente da Comissão apontou os desafios que a invasão aos Estados-membros, nomeadamente no fornecimento de energia.

"A Rússia tentou chantagear-nos, mas falhou". Ursula sublinhou que o Kremlin "cortou 80% do nosso fornecimento de gás em apenas oito meses, mas conseguimos contornar esta crise energética sem precedentes" diversificando o número de fornecedores.

A líder europeia traçou ainda um rumo para "tornar a energia acessível para os Europeus", realçando que está a ser preparada proposta para reformar o mercado energético. A primeira tranche de três mil milhões de euros de apoio à Ucrânia, do total da macro ajuda financeira de 18 mil milhões que a UE já aprovou para todo o ano de 2023, foi transferida ontem para os cofres do governo de Kiev. Já a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, deixou uma forte convicção: se a Ucrânia já estivesse na NATO, não teria havido guerra, dado que a Rússia não se atreveria a atacar território da Aliança Atlântica.

Últimas