Antigos altos funcionários das Nações Unidas querem que o secretário-geral, António Guterres, se empenhe mais na mediação na guerra da Ucrânia e propõem mesmo a mudança do seu escritório para a Europa, para estar mais perto do conflito.
O pedido foi feito numa carta assinada por mais de 200 antigos funcionários, incluindo ex-subsecretários da organização.
Dizem que António Guterres tem de tomar a iniciativa de tentar mediar uma paz na Ucrânia e, que se nada fizer, a ONU corre o risco não só de se tornar irrelevante, como também de deixar de existir.
Afirmam ainda que o atual secretário-geral tem de estar preparado para assumir riscos para garantir a paz.
“Aquilo que nós e o público em geral queremos ver é uma presença política da ONU e um compromisso público, além da notável resposta humanitária da ONU à crise na Ucrânia”, disseram os autores da carta.
Defendem uma “estratégia clara” para “restabelecer a paz”: “Começando com um cessar-fogo provisório e o uso da capacidade da ONU para mediação e resolução de conflitos”.
“Isto podia incluir visitas às áreas atingidas pelo conflito, discussões com os dois lados e até mesmo mudar, temporariamente, o seu próprio escritório [Guterres] para a Europa, para estar mais perto das negociações que são urgentes.”
O que dizem os críticos e os defensores de Guterres
De acordo com o The Guardian, têm surgido preocupações sobre a mediação na Ucrânia estar a ser feita por partes que vão desde a Turquia, França, Israel ou Áustria.
Durante a crise de mísseis de Cuba, em 1961, o secretário-geral U Thant desempenhou um papel importante na mediação do conflito entre a Rússia e os Estados Unidos da América.
Também na guerra do Golfo, o secretário-geral Javier Pérez de Cuéllar convenceu os Estados Unidos a negociar com o Iraque.
“Decidimos levantar a nossa voz pela preocupação com o desafio existencial que as Nações Unidas estão a enfrentar nesta conjuntura histórica”, escrevem os autores da carta. “A invasão russa da Ucrânia mina severamente a ordem global pós-II Guerra Mundial. É o auge de uma série de ameaças à paz e segurança da humanidade, prosperidade e respeito pelos direitos humanos que a ONU defende.”
Críticos dizem que Guterres foi imobilizado devido às divisões entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Assim como pelos votos na Assembleia-Geral, que revelaram profundas divisões, incluindo sobre a expulsão da Rússia do Conselho dos Direitos Humanos da organização.
Aqueles que defendem o secretário-geral argumentam que foi o mais claro possível ao criticar a invasão sem comprometer o seu papel profissional.
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