Guerra no Médio Oriente

"Todos devemos temer": intervenção direta dos EUA daria "dimensão mais grave" à guerra com Irão

O alerta de Augusto Santos Silva, antigo ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, surge numa altura em que a principal televisão israelita revela que os Estados Unidos se vão juntar a Israel nos ataques ao Irão.

Rita Rogado

Augusto Santos Silva, antigo ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, alerta que a entrada dos Estados Unidos (EUA) na guerra entre Israel e o Irão iria escalar o conflito. Na SIC Notícias, condena o Governo israelita, que acusa de atuar por "obsessão".

O atual Governo israelita "tem procurado multiplicar focos de conflito" e arrastar os EUA para a intervenção direta no conflito. Essa intervenção iria provocar uma "escalada que todos devemos temer", declara Santos Silva.

"Espero que não seja uma questão de tempo. Uma eventual entrada dos EUA na guerra daria uma dimensão ainda mais grave e global ao conflito."

Augusto Santos Silva diz "não compreender" os ataques israelitas, que não lhe parecem "cobertos pelo direito internacional", uma vez que o direito internacional admite ataques preventivos "em resposta a ataques iminentes" e "não era o caso" porque decorriam negociações entre o Irão e os EUA.

"Não minorizo a ameaça que o Irão constitui. É o cérebro atrás do Hamas, do Hezbollah e dos Houthis e tem um programa nuclear que pode desenvolver-se (...). Não é aceitável que possa ter uma arma nuclear", declara.

Contudo, em entrevista na SIC Notícias, o antigo responsável pela pasta dos Negócios Estrangeiros defende que Israel atua com base numa "ideia obsessiva" do atual Governo, que considera que a sua existência é ameaçada e que acha que a "única resposta é destruir os inimigos".

UE "cúmplice por omissão" na guerra em Gaza

Augusto Santos Silva considera que a União Europeia (UE) tem sido "pusilânime", sobretudo, em relação aos ataques de Israel a Gaza, em que se assiste ao "massacre de uma população civil indefesa".

Questionado se a UE pode ser considerada cúmplice, diz que é um termo "forte", porém, aponta para o termo "cúmplice por omissão".

"A União Europeia apela ao regresso, à diplomacia, ao cessar-fogo, mas isso não chega para a dimensão do massacre que assistimos em Gaza. É uma reação de arrastar os pés que favorece Israel", declara.

Ursula Von Der Leyen foi "demasiado rápida em exprimir solidariedade com Israel na sequência do 7 de outubro", contudo, Augusto Santos Silva lamenta que não tenha tido "igual rapidez" a exprimir solidariedade à população civil de Gaza.

Presidenciais: nenhum candidato reúne "os mínimos"

Na entrevista na SIC Notícias é ainda questionado se mantém a ideia de que António José Seguro "não cumpre os requisitos mínimos" para ser Presidente da República. Santos Silva é perentório: "Sim".

"Mantenho a minha posição. É um juízo político em relação àquele cargo", diz.

O socialista defende ainda que a ideia é "extensível" às restantes candidaturas. Isto é, considera que "nenhum dos candidatos" reúne "os requisitos mínimos" para ser Presidente da República.

Santos Silva admite que ainda tem esperança que António Vitorino avance para a corrida a Belém.

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