Guerra no Médio Oriente

“Quem me dera que lançassem uma bomba nuclear sobre nós”: o desespero de quem ainda sobrevive em Gaza

Israel autorizou, esta segunda-feira, a passagem de camiões de ajuda para o norte de Gaza. Uma cedência à pressão norte-americana, mas insuficiente face à crise alimentar que se agrava a cada dia que passa.

Cristina Neves

“Quem me dera que lançassem uma bomba nuclear sobre nós”, afirma Itimad, uma mulher palestiniana, deslocada à força pela guerra em Gaza. O que leva uma mãe de 7 filhos a apelar ao uso de uma arma de destruição em massa? “Assim salvavam-nos desta vida. Isto não é viver”, responde. 

“Eles que lancem uma bomba nuclear e acabem com isto”, defende.  

Enquanto Itimad prepara uma refeição para os mais novos, os filhos mais velhos têm de garantir a própria sobrevivência, num ponto de distribuição de comida.  

Os alertas já se fazem soar há vários meses, mas a realidade superou as piores expectativas. A agência da ONU para a alimentação estima que, entre novembro e abril de 2025, 16% da população de Gaza estará num nível catastrófico de fome - o mais elevado -, mas a situação deteriorou-se ainda mais rapidamente no norte do território.  

“As pessoas nestas zonas sitiadas não recebem comida nem água há 30 dias, nem das agências humanitárias, nem de abastecimentos comerciais. Estão encurraladas. Não há, simplesmente, forma de subsistir”, denuncia Louise Wateridge, da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina. 

A agência da ONU que presta ajuda aos palestinianos foi impedida por Telavive de operar livremente no território. Acusa Israel de usar a fome como arma. 

Deslocada há mais de um ano, a população sente-se impotente e esgotada. 

“Antes, podíamos trabalhar e deslocar-nos. Hoje não há nada. Ficamos sentados a espera que Deus nos dê algo para comer ou beber”, afirma Khalil, mais um palestiniano deslocado.  

O número de remessas autorizadas para a Faixa de Gaza está no nível mais baixo, apesar da pressão internacional para que Israel permita a chegada de comida e medicamentos a uma população sitiada e sob ataque.

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