Furacão Lorenzo

O "buraco" que o furacão deixou à volta dos Açores

Sem radares meteorológicos, os Açores seguem o Lorenzo através de imagens de satélite que mostram o "vazio" no espaço aéreo e marítimo em torno do arquipélago no Atlântico Norte.

ANTÓNIO COTRIM

Nesta página pode ver-se, em tempo real, a posição dos barcos, dos aviões e de outros equipamentos em todo o mundo e, esta manhã, era evidente "o vazio" em torno do arquipélago dos Açores, no Atlântico.

Único radar meteorológico dos Açores desativado com desinvestimento dos EUA nas Lages

Os Açores eram, até 2016, servidos por um único radar, no Pico de Santa Bárbara, na ilha Terceira, que era propriedade do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, mas foi desativado na sequência do processo de redução da base militar norte-americana nas Lajes.

Atualmente, não há nenhum radar meteorológico operacional na região, mas a instalação desta estrutura no Pico de Santa Bárbara está prevista para este ano, e está planeada, também, a construção de um radar no Pico da Barrosa, em São Miguel.

Sem radares, sobra ao IPMA acompanha furacão via Miami

O IPMA acompanha o desenvolvimento do furacão "Lorenzo" nos Açores com imagens de satélite e modelos meteorológicos próprios e do Centro de Miami, responsável por estes fenómenos no Atlântico Norte, já que na região não há radares meteorológicos.

"Este furacão está a ser seguido com imagens de satélite e modelos meteorológicos que fazem a previsão. O Centro de Miami, que é o responsável por este tipo de fenómeno no Atlântico Norte, tem os seus próprios modelos. Em conjunto com os nossos modelos e os deles, é feito esse acompanhamento. Um acompanhamento mais próximo do local é feito com imagens de satélite", adianta à Lusa a meteorologista Vanda Costa, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Mas os radares não fazem falta aos Açores???

Em junho, Jorge Miranda, presidente do IPMA, salientou que "os Açores precisam de três radares e que o radar das Flores -- que é, muitas vezes, pouco discutido -- é um elemento fundamental da rede, porque a maioria das tempestades mais gravosas que atingem as ilhas viriam a ser primeiramente detetadas no radar das Flores".

Questionada sobre se estes equipamentos fazem falta à operação do IPMA na região, Vanda Costa responde que "sim, sem dúvida" e concretiza:

"Uma das situações que temos aqui nos Açores, e a nível mundial, é a previsão da precipitação intensa. É difícil de se prever, não só aqui nos Açores, é um problema mundial, e um radar vem ajudar, não na previsão a longo prazo, ou seja, de dois ou três dias, mas sim de uma ou duas horas".

A meteorologista ressalva, no entanto, que este instrumento traria mais precisão às previsões, mas a sua ausência não compromete o trabalho do instituto.

Além dos radares, há, no arquipélago, uma carência de estações meteorológicas

Nas duas ilhas do arquipélago da Madeira, o IPMA tem 16 estações, sendo que 15 ficam na ilha da Madeira e uma no Porto Santo.

Pelas nove ilhas dos Açores, estão distribuídas apenas 11.

Estas estações são essenciais para a observação dos fenómenos meteorológicos, explica Vanda Costa, que, sem adiantar um número preciso, afirma que, "de uma forma geral, a rede terá de ser reforçada no arquipélago todo".

"Quanto maior for a ilha, maior a necessidade de ter estações. Em todas as costas ter uma estação, era importante, pelo menos", indica a meteorologista, apontando o protocolo para intercâmbio de dados meteorológicos, celebrado entre o IPMA e o Governo Regional dos Açores, que permite um melhor acompanhamento dos fenómenos.

"A meteorologia é uma ciência exata, mas de muita incerteza. Há situações que, mesmo com os melhores meios, não podem ser asseguradas (...) Apesar de termos evoluído muito, estamos a falar de cálculos e aproximações. É muito difícil transformar a natureza em equações matemáticas. Isso acontece em qualquer lado", alerta a cientista.

Com Lusa

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