Europeias 2024

São portugueses, mas não é assim que os veem: as histórias dos filhos de imigrantes em Portugal

A imigração foi um dos temas desta campanha. A SIC falou com portugueses, filhos de imigrantes, que dizem que votar no domingo é uma forma de lutarem contra o racismo e a discriminação.

João Nuno Assunção

Hugo, Thalita, Parmis. Três percursos diferentes, três histórias comuns. Todos foram marcados pela decisão dos pais de mudarem de vida e começarem do zero em Portugal.

Nasci em Lisboa, no Hospital de Santa Maria. Fui criado e cresci na Póvoa de Santa Iria com os meus pais”, conta Hugo.

“Durante muito tempo, fui vítima de bullying na escola. Já me chamaram tantas coisas: chinoca, extraterrestre,... Até houve um dia em que eu cheguei a casa e perguntei à minha mãe porque é que eu tinha cara de chinês, sendo português”, relata. “Foi isso que realmente fez-me olhar para mim de forma diferente e ser mais forte.”

Aos 25 anos, é dono de um restaurante asiático, que abriu em Lisboa com outra portuguesa com quem partilha a vida e um passado ligado à imigração. Thalita, de 22 anos. “Nasci em Almada, trabalho no restaurante e sou também sócia-gerente.”

Voltou a Portugal há oito anos, depois de ter passado a infância no país natal dos pais. Garante ter vivido a discriminação de perto.

“No Brasil, eu apanhava na escola. Gozavam imenso com a questão de ser portuguesa”, lembra. “E, quando volto para Portugal, é o contrário: as pessoas julgam-me e não sou aquilo que eu sempre pensei que fosse.”

Há pouco mais de um ano, foram pais pela primeira vez. Não escondem o receio de que o passado se repita.

“Eu tenho medo que [o meu filho] passe por aquilo que o Hugo passou ou aquilo que eu cheguei a passar”, confessa Thalita.

Mais habituado a ver partir do que a chegar, Portugal tornou-se, nas últimas décadas, país de destino de milhares de imigrantes. Alguns são recebidos com estranheza e desconfiança.

“Tive uma pequena discussão em que um colega disse: “Iraniana, vai para a tua terra!””, relata Parmis.

A história começou há quase 30 anos, quando os pais fugiram para Portugal.

"Nasci no Irão, em Teerão. Tive uma boa infância, tenho muito boas memorias do Irão”, conta. “Lembro-me de que achei estranho a chegada, a nível visual, porque as mulheres estavam quase despidas e não sabia se vinha passar férias, se era uma coisa definitiva.”

Foi a mudança mais radical que viveu em 37 anos de vida. Para trás deixou um dos mais fechados regimes do mundo.

“Não há liberdade de expressão. Uma mulher é desvalorizada. O meu pai foi o meu ídolo, nesse sentido, que sempre me disse: “Tens de tirar a licenciatura e ser uma mulher independente”.

A atitude, garante, foi determinante na adaptação ao novo país.

“Nós não conhecíamos ninguém. Não havia comunidade iraniana, o que tornou difícil, mas acho que foi isso que me permitiu ter uma integração. Nós próprios tivemos abertura e tivemos noção de que estamos nova realidade, nós é que nos temos de adaptar.”

Há séculos que a Europa ajuda a escrever a história das migrações, mas nunca como agora o tema dividiu tanto o eleitorado.

“Esse problema com a imigração não é só em Portugal, é com a Europa toda. Com um voto, podemos melhorar ou piorar a situação”, afirma Thalita.

“Desde que tenho 18 anos, sempre votei. É importante não deixar que as outras pessoas escolham por ti o rumo do nosso país e do mundo”, sustenta Hugo.

Mundo que será sempre determinado pelas escolhas de cada um.

“Eu sou portuguesa e quero continuar em Portugal”, declara Parmis.

“Não quero deixar para o meu filho uma Europa com guerra e sem democracia”, sublinha Thalita.

"Gostava de deixar para o meu filho uma Europa unida, forte, sustentável e sem preconceitos”, resume Hugo.

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