Eleições nos EUA

DIA D-92: será Kamala a confirmar a sua própria vitória contestada

Opinião de Germano Almeida. Incrível como o “bullying” de Trump consegue incutir em tanta gente a ideia de que “aconteça o que acontecer, ele vai acabar por impedir que Kamala tome posse”. Sejamos racionais.
Brandon Bell

Germano Almeida

1 – “O TRUMP NÃO VAI ACEITAR”
Todos os sinais apontam para que Donald Trump não pretenda aceitar nova derrota de forma pacífica. O mesmo se pode dizer do seu vice, o inteligente com tiradas boçais JD Vance. E, sim, o ex-Presidente tem a capacidade de colocar milhões de apoiantes seus a acreditar que foram “roubados e enganados”, caso perca nas urnas, sobretudo se a diferença não for muito significativa.
Lembram-se de 6 de janeiro de 2021 ou, caramba, já se esqueceram? E, sim, desta vez no lugar de Mike Pence estará… pois, Kamala Harris, a própria candidata democrata, que ainda vice-presidente é, por inerência, também presidente do Senado e, como tal, presidirá à sessão conjunto no Capitólio que certificará os resultados eleitorais.
Mas calma: os EUA têm leis, têm regras, têm tribunais e, no limite, têm militares com forte pendor institucional, que certamente tratarão de assegurar que quem ganhar as eleições venha a poder tomar posse com a normalidade possível.
Incrível como o “bullying” de Trump consegue incutir em tanta gente a ideia de que “aconteça o que acontecer, ele vai acabar por impedir que Kamala tome posse”. Sejamos racionais: Donald Trump não é a Comissão Eleitoral, é só um candidato que pretende ser o segundo americano a voltar à Casa Branca depois de lá ter saído (algo que só Grover Cleveland até agora conseguiu, no final do século XIX). Pode lançar a confusão. Pode criar problemas. Pode instigar a divisão e o ódio (foi sempre isso, de resto). Mas se perder não vai ser Presidente. Podem ter a certeza. Isto não é a Venezuela. Ainda. Ainda são os Estados Unidos da América. Os Estados Unidos continuam a ser um grande país e um grande sistema. Vamos com calma.

2 – APERTEM OS CINTOS

Dito o essencial, é claro que há fortes hipóteses de haver problemas. Trump, que foi eleito à rente em três estados em 2016 e nunca aceitou a derrota evidente e mais do que provada em diferentes instâncias judiciais, nunca aceitará tranquilamente um cenário de nova derrota, agora ainda por cima contra uma mulher liberal e negra da Califórnia.

É outro ponto em que se vê como é mais fácil ser-se um “bully” populista, em vez de ser um líder responsável. Esqueçam 2008, quando John McCain fez um notável discurso de concessão, numa mistura de pena por ter perdido com orgulho por ser americano e ver alguém como Barack Obama ser eleito Presidente. Uma década e meia depois, quase tudo ficou pior no ambiente político, social e mediático nos EUA.

Quando se escolhe alguém como Donald Trump para Presidente (2016, possivelmente de novo agora em 2024) ou para nomeado presidencial de um grande partido por três vezes seguidas (os republicanos, em 16, 20 e 24), não se espere elevação. Há que prever baixo nível e divisão. Apertem os cintos: nos próximos 92 dias vai valer quase tudo.

UMA INTERROGAÇÃO: Em 2016, apenas 55% dos possíveis votantes foram às urnas. Em 2020, porém, houve uma adesão muito elevada: 67%. Como será a taxa de participação em 2024?

UM ESTADO: Maryland

Resultado em 2020: Biden 65,4%-Trump 32,2%

Resultado em 2016: Hillary 60,3%-Trump 33,9%

Resultado em 2012: Obama 62,0%-Romney 35,9%

Resultado em 2008: Obama 61,9%-McCain 36,5%

Resultado em 2004: Kerry 56,0%-Bush 43,0%

(nas últimas 13 eleições presidenciais, 19 vitórias democratas, 3 vitórias republicanas – AS 8 ÚLTIMAS FORAM DEMOCRATAS)

- O Maryland tem 6,2 milhões habitantes: 50,0% brancos, 10,6% hispânicos, 31,1% negros, 6,7% asiáticos; 51,6% mulheres // 18.º estado em população // 15.º em riqueza

VALE 10 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL


UMA SONDAGEM:

VOTO POPULAR NACIONAL – Trump 47.7 / Kamala 46.5 (média RCP todas as sondagens nacionais entre 22 e 29 julho)

Últimas