Eleições nos EUA

DIA D-93: maiorias reais e maiorias que contam

Opinião de Germano Almeida. Haverá o risco de Kamala Harris vencer o voto popular por uma grande diferença mas Donald Trump ganhar à justa o Colégio Eleitoral?
MARK FELIX/ Getty

Germano Almeida


1 – MAIORIAS REAIS E MAIORIAS QUE CONTAM

Os 50 estados dos EUA (mais o distrito federal, Washington DC, que tem 3 Grandes Eleitores, tantos como os estados com menos população) têm características muito diferentes. Uma boa parte deles tem uma dimensão populacional não muito diferente de Portugal – algures entre 7,5 e 12 milhões de habitantes. Há, no entanto, quatro deles com uma população muito superior a todos os outros: Califórnia (39,6M), Texas (29,1 milhões), Florida (21,5M) e Nova Iorque (20,2M).

Para compreendermos a questão da dualidade entre democratas a terem geralmente mais votos a nível nacional vs republicanos competitivos no Colégio Eleitoral, temos de olhar para o seguinte: dois dos três estados mais populosos dos EUA, Califórnia e Nova Iorque, têm uma fortíssima maioria democrata. E isso leva a que o nomeado presidencial democrata possa ter, só nesses dois estados, uma vantagem que pode ir aos 5 milhões de votos. Outro, o Texas, tinha uma grande maioria republicana, que tem vindo a esbater-se, pelas características demográficas das maiores cidades texanas. Nos últimos anos, Houston, Dallas, Austin, San Antonio e El Paso tornaram-se cidades com grandes maiorias democratas.

Há quatro anos, Biden chegou a estar à frente de Trump no Texas na noite eleitoral, acabando por ficar a apenas 5 pontos percentuais do republicano (algo impensável para um candidato presidencial democrata uma ou duas décadas). No todo do estado, o Texas continua a ser tendencialmente republicano, graças aos condados rurais, mas por muito pouco. Quanto à Florida, era até há poucos anos um estado empatado: tem muitos democratas, mas também muitos republicanos.

A partir de 2020, transformou-se tendencialmente republicano, pela influência Trump e Ron de Santis. Ou seja, no global dos quatro estados mais populosos, é muito provável que Kamala tenha muito mais votos que Trump. Mas isso nada nos diz em relação à vitória no Colégio Eleitoral. A lógica dos “battleground states” é decidida por poucos milhares de votos - eventualmente meia dúzia de dezenas de votos. Apesar de diferenças de alguns milhões, a favor dos democratas, nos estados maiores. E é por isso que temos de relativizar ao ver Kamala um ou dois pontos à frente em sondagens nacionais -- provavelmente, precisará de mais uma 2 ou 3 para vencer a eleição no Colégio Eleitoral. É essa a maioria que conta - e é isso que explica que os democratas, tendo ganho o voto popular de sete das últimas oito eleições presidenciais, tenham perdido duas delas: Gore em 2000 e Hillary em 2016.


2 – “QUANTO PIORES ELES SÃO MELHOR ME DOU COM ELES”
Um dos aspetos mais perturbadores no mandato presidencial de Trump 2017-2021 foi a tendência de de se dar bem com líderes muito pouco recomendáveis e destratar aliados permanentes dos EUA (nomeadamente nós, europeus). No livro “Rage” (Raiva), de Bob Wooward, isso está destacado. “Quanto piores eles são melhor me dou com eles”, confessou Trump a Woodward, numa das 17 conversas gravadas que teve com o autor (noutra viria a confessar que já sabia desde fevereiro da gravidade da ameaça do novo coronavírus, mas que preferiu esconder da população para não criar o pânico).
“E com os bons não me entendo”, disse Trump. Isso mesmo: a gente já desconfiava, mas é o próprio a admitir – o ex-e-possível-futuro Presidente dos EUA sente-se bem com os líderes autoritários e ditatoriais e sente-se peixe fora de água ao lidar com os líderes democráticos. Opções, feitios e escolhas. Do eleitorado também. Será que querem mesmo repetir, depois de tantos avisos, nomeadamente por quem trabalhou bem de perto com ele, como John Bolton, seu Conselheiro de Segurança Nacional entre 2018 e 2019, que num livro recente apontou que Trump "não faz a mínima ideia de como se fazer acordos e de como funcionam as relações internacionais"?

UMA INTERROGAÇÃO: Haverá o risco de Kamala Harris vencer o voto popular por uma grande diferença mas Donald Trump ganhar à justa o Colégio Eleitoral?

UM ESTADO: Texas

Resultado em 2020: Trump 52,0%-Biden 46,5%

Resultado em 2016: Trump 52,2%-Hillary 43,2%

Resultado em 2012: Romney 57,2%-Obama 41,4%

Resultado em 2008: McCain 55,5%-Obama 43,7%

Resultado em 2004: Bush 61,1%-Kerry 38,2%

(nas últimas 13 eleições presidenciais, 1 vitória democrata, 12 vitórias republicanas)

-- O Texas tem 29 milhões habitantes: 41,2% brancos, 39,7% hispânicos, 12,9% negros, 5,2% asiáticos; 50,3% mulheres // 2.º maior estado em população // 2.º mais rico da União

VALE 40 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL

UMA SONDAGEM:

VOTO POPULAR NACIONAL – Kamala 43-Trump 42

(Reuters/Ipsos 26-28 julho)

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