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Debate CDU vs IL: os dois opostos atraem-se, mas só num tema

O privado e o público estiveram em debate na RTP3, com Paulo Raimundo e Rui Rocha a discordarem em quase tudo. Ideologicamente não podiam estar mais distantes, mas ainda existe um pormenor onde conseguem concordar. Sabe qual?

Maria Madalena Freire

No frente a frente entre Paulo Raimundo, da CDU, e Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, houve tempo para as condolências a Luís Montenegro, mas mais tempo ainda para discordar: na Justiça, nos salários, na Saúde e, na verdade, em tudo.

O terceiro debate e último do dia só podia começar como os outros: com a lentidão da Justiça, um diagnóstico que nem sempre é transversal a todos. Mas para a Iniciativa Liberal e PCP existem coisas a melhorar, mas a forma como o querem fazer é distinta.

Rui Rocha comentou que é importante "implementar medidas anticorrupção" e analisou que "a Justiça administrativa demora muito tempo".

"O nosso foco é no combate à corrupção, assegurar que as nomeações são por mérito e não por favor, no caso que temos em mãos - da Madeira - a legislação diz que ninguém pode estar detidos estes dias", referiu o líder liberal em relação aos detidos da Madeira que estiveram 21 dias na prisão e foram esta quarta-feira libertados.

Para o PCP existem vários problemas no setor judicial.

"Precisamos de uma Justiça que responda em casos de desemprego, de despejos, até as coisas mais triviais, mas ocupam a vida de milhares de pessoas, são necessidades que precisam de ter resposta e não têm muitas vezes. Se há questão que não pode haver é a desconfiança com a justiça e julgo que existe essa perceção", comentou o líder comunista.

Salários

A respeito dos salários e dos lucros empresariais, denotou-se uma das maiores cisões ideológicas entre os dois partidos presentes na Assembleia da República.

"Não há nenhuma relação entre produtividade e os salários. Antes houvesse, porque se houvesse, os salários estariam mais altos do que estão. Com o que as pessoas contam é com o dinheiro ao fim do mês e não com o prémio X", referiu Paulo Raimundo.

A visão da IL é "muito diferente".

"Portugal precisa de crescimento económico, porque temos sido ultrapassados por vários países. É preciso baixar o IRS às famílias, aumentar as isenções para atividades liberais e trabalhadores independentes para que cheguem com mais dinheiro no bolso ao fim do mês, eliminar taxas e taxinhas, baixar o IRC, propomos uma taxa base", descreveu Rui Rocha, sendo o total oposto ao que propõe o partido de Raimundo.

Para Rui Rocha, as empresas grandes trazem inovação, produtividade, tecnologia e salários mais altos e é preciso atraí-las para Portugal.

Mas existe algo em que concordam, Paulo Raimundo defendeu que a economia cresce com as pequenas médias empresas e que, por isso, propõe uma descida do IRC para os 12%.

Num momento de "união", Rui Rocha concordou. Mas acrescentou que defende essa taxa para todos.

Nacionalizações

“A IL acha que Estado está a mais em tudo, menos a passar o cheque, o Estado devia ter em suas mãos vários setores estratégicos para dinamizar a economia, como a energia, telecomunicações, a banca”, defendeu o líder comunista.

Para a IL a RTP, a Caixa Geral de Depósitos deviam ser privatizadas.

Saúde

Na Saúde, ambos os candidatos fizeram questão de, no último ano, irem visitar hospitais e centro de saúde onde encontraram grandes filas de espera. Apesar de os dois identificarem os problemas do SNS, as soluções são bastante distintas.

"Eu fui seis vezes a Mem-Martins, onde havia idosos e doentes deitados no chão à chuva. A culpa é do PCP. Eu sou de Braga e a região é servida pelo Hospital de Braga que funcionava em PPP, era eficiente, estava integrado no SNS, e trazia vantagens para o utente e profissionais. Por decisão do PCP e BE, acabou-se com isso e utentes e profissionais estão piores. Essa cegueira ideológica levou ao prejuízo dos utentes, dos contribuintes e profissionais de saúde", disse Rocha.

Para a IL, a solução é, mais uma vez, as pessoas escolherem o público, o privado ou, até mesmo, o social.

"É o Estado que financia e deve assegurar saúde aos utentes onde as pessoas escolhem", insistiu.

O PCP não aceita estas responsabilidades que a IL lhe confere a respeito do estado do SNS.

“Perante um problema que existe, e relembro que não acompanhamos o OE de 2021, a proposta da IL é dar o golpe final e acabar com o SNS com duas questões que são para ter presentes. Oito mil milhões são transferidos para os privados, dois mil milhões são para medicamentos e Rui Rocha acha que isto é pouco”, referiu Raimundo.

A solução para o PCP é reter profissionais de saúde, criando condições para isso e, até, chamar outros que estejam fora do SNS.

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