João Maria Jonet, comentador SIC, falou esta quinta-feira sobre os comentários de Paulo Núncio do CDS, sobre a reversão da lei do aborto e, também, sobre a tinta verde despejada no líder do PSD. Para o comentador SIC, as declarações conservadoras são infelizes, mas a tinta veio salvar a semana a Luís Montenegro.
“Se os partidos quiserem falar dele (aborto) acho que os jornalistas deviam perguntar ao outro partido que estava presente neste debate próvida o que acha sobre o assunto, porque é um partido - o Chega - com pouca vontade de tomar posições difíceis e tem uma posição em relação a este tema que talvez não será pacifica para os seus eleitores”, começou por dizer o comentador SIC.
Para além disso, na sua perspetiva, se este tema partisse da sociedade portuguesa, nunca partiria a favor da direita, por isso “não é bem visto trazer o assunto para cima da mesa”.
"É um disparate dizer que não foi o que Paulo Núncio disse. Isto é um partido que faz parte de uma coligação. Ou queremos tratar as coligações com seriedade, mas parece que a AD não é para tratar com seriedade, é o PSD a fazer caridade com dois partidos que têm lá as suas visões e a AD leva-os ao colo para voltarem a entrar no Parlamento com ideias que não dizem nada à maioria dos portugueses e está tudo bem, acho desonesta a resposta do Nuno Melo", esclareceu João Maria Jonet.
Após as declarações de Núncio, Nuno Melo defendeu as declarações do seu vice, acrescentando que a afirmação demonstrou “grande respeito democrático”.
“O que [Paulo Núncio] disse foi que o resultado de um referendo só pode ser alterado por outro referendo”, sublinhou Nuno Melo.
Acrescentou ainda que apesar do tema não constar do acordo da coligação, tal “não invalida o que o CDS sempre pensou”.
Mas João Maria Jonet esclareceu que o PSD não divide a sociedade em questão de costumes.
"Não é essa a lógica do partido, é desconfortável para PSD e já é há 25 anos que o PSD seja confundido com o CDS, que é muito focado nas questões sociais e conservador nos costumes", disse.
Desmobilizar o centro
Em relação a voltar a recuperar os votos que tem perdido para o PS, para João Maria Jonet estes acontecimentos não ajudam nesse resgate.
"É uma semana que não ajuda. Luís Montenegro tem uma resposta excelente ao balde de tinta que lhe atiraram para cima, mas até aqui uma direita que ia nos 58%, que tenho dificuldade em acreditar porque nunca aconteceu em Portugal, mas acaba por chamar Passos Coelho com discurso muito mais à direita, com Paulo Núncio num fórum pró-vida e isto vai acantonar o eleitorado de direita, pode ir buscar alguns votos ao Chega, mas será para perder alguns votos ao PS", esclareceu.
Para além disso, João Maria Jonet considera que existe uma aproximação destes temas à política norte-americana também, em que o Partido Republicano utiliza o aborto como arma política.
"Paulo Núncio gabou-se de restringir o acesso ao aborto. Não percebo porque é que estas pessoas não se metem na vida delas, se são a favor da vida e são contra o aborto convençam pessoas no seu circulo pessoal e político a não fazer um aborto, têm essa liberdade, agora obrigar as pessoas a pensar como elas e querer inscrever isso na lei para uma coligação que se diz de liberdade e tirar o Estado na vida das pessoas, querer pôr o Estado no útero das pessoas parece-me disparatado"
Por último, a respeito do episódio em que Luís Montenegro foi atingido com tinta verde por uma ativista climático, João Maria Jonet considera que o momento foi bem aproveitado pelo líder social-democrata.
"O momento ajuda a AD e o debate político e democrático. Tira a atenção destas fugas para a direita e porque Luís Montenegro responde com uma calma importante e focado no tema a lembrar que é uma prioridade do PSD a transição energética e verde. Para o debate democrático é bom porque nos lembra do que é haver um chão comum e cívico quando as pessoas se solidarizam sem ter nada de político em troca, porque não é bom levar com balde de tina em cima", concluiu.
O que aconteceu hoje?
Paulo Núncio quer "limitação do acesso" ao aborto
Durante um debate promovido pela Federação Portuguesa pela Vida, em plena campanha eleitoral, o vice-presidente do CDS e membro da Aliança Democrática, Paulo Núncio, defendeu medidas para limitar o acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez.
"Devemos ter a capacidade de tomar iniciativas no sentido de limitar o acesso ao aborto e, logo que seja possível, procurar convocar um novo referendo no sentido de inverter esta lei", defendeu.
Depois, por volta das 11:50 desta quarta-feira, o presidente dos sociais-democratas ficou pintado de verde após a iniciativa de um ativista climático que se encontrava no local.