A síndrome inflamatória aguda semelhante à doença de Kawasaki está a afetar cada vez mais crianças. Ha relatos de 100 crianças por semana a serem hospitalizadas no Reino Unido e vários casos detetados em França. Em Portugal foi diagnosticado pelo menos um caso.
A síndrome inflamatória pediátrica (PIMS-TS) surge nas crianças associada à infeção pelo novo coronavírus, segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).
É um estado inflamatório que pode desencadear um quadro clínico grave, mas que pode ser tratado.
É caracterizada por febre alta, dores abdominais e problemas digestivos, erupção cutânea, conjuntivite, língua mais vermelha e inchada, às vezes problemas cardíacos - "sintomas que são uma mistura da doença de Kawasaki e síndrome de choque tóxico", revela o ECDC.
Os primeiros relatos desta doença pediátrica surgiram em maio de 2020 no Reino Unido. Seguiram-se relatos de casos semelhantes nos Países Baixos, Irlanda, Bélgica, Suíça, Itália, Espanha, França e Estados Unidos.
Em Portugal, houve pelo menos um caso registado em maio e a criança está recuperada.
Calcula-se que tenham morrido duas crianças com PIMS desde o início da pandemia.
100 crianças por semana hospitalizadas no Reino Unido
O jornal The Guardian noticia hoje que os hospitais britânicos estão a admitir cerca de 100 crianças e jovens por semana - enquanto em abril rondava os 30 por semana.
A maioria dos casos surgiu em Londres e no sudeste da Inglaterra, áreas onde a nova variante do coronavírus tem causado um aumento acentuado nas infeções.
A especialista em doenças infecciosas em crianças e diretora clínica de serviços infantis no Imperial College Healthcare NHS Trust em Londres, Dra. Hermione Lyall, demonstrou o impacto totalmente desproporcional que a doença está a ter nas crianças de origem BAME - Black, Asian and Minority Ethnic, ou seja, negras, asiáticas e de minoria étnicas.
Segundo a especialista, num "primeiro relatório nacional" sobre 78 pacientes com PIMS que acabaram em cuidados intensivos, 47% eram de origem afro-caribenha e 28% de origem asiática.
A porta-voz do departamento de PIMS do Royal College of Paediatrics and Child Health, Dra. Liz Whittaker, avançou ao jornal que "estão a ser feitos estudos para entender por que essa população é afetada. A genética pode ser um fator, mas estamos preocupados que seja um reflexo de como esta é uma doença da pobreza, que afeta desproporcionalmente aqueles que não podem evitar a exposição devido ao seu trabalho, a várias gerações a viver dentro de uma casa".
Dados de 21 das 23 unidades de cuidados intensivos pediátricos (PICU) revelam que 78% dos pacientes não tinham doenças anteriores e estavam de boa saúde até à data. A idade média das crianças que desenvolveram é de 11 anos, mas varia de 8 a 14 anos. Dois terços (67%) eram rapazes. Apenas 22% tinham covid-19 antes do PIMS surgir, enquanto os restantes já tinham tido a doença. Quase um em cada quatro dos que chegaram a uma unidade de cuidados intensvos desenvolve uma doença cardíaca chamada dilatação da artéria coronária, que é potencialmente fatal.
Outros dados apresentados por especialistas citados pelo The Guardian mostraram que um pequeno número de crianças com a doença sofre repercussões no cérebro - confusão, letargia, desorientação, comportamentos diferentes e, em casos raros, tem um derrame. Além disso, num estudo com 75 crianças, oito sofreram problemas cardíacos, incluindo miocardite e disfunção ventricular.
A maioria das crianças com PIMS foi levada a um dos 23 hospitais da rede do NHS com cuidados intensivos pediátricos, como os hospitais infantis Evelina e Great Ormond Street em Londres e o Birmingham Women’s and Children’s Hospital. Segundo os médicos de Evelina, os casos terão um pico na próxima segunda-feira e depois começarão a diminuir.
Descansam os pais dizendo que a recente incidência de PIMS é proporcional ao maior impacto que a pandemia está a ter nos adultos nas últimas semanas. “PIMS pode ser muito grave. Mas vimos menos crianças gravemente doentes [na segunda vaga] porque a doença é reconhecida cedo e o tratamento é mais precoces ”.
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Mais de 2,2 milhões de mortos no mundo
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.269.346 mortos resultantes de mais de 104,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Os países mais afetados continuam a ser os Estados Unidos, o México e o Brasil .
Em Portugal, morreram 13.482 pessoas dos 748.858 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
Links úteis
- Atualização semanal da execução do Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19
- Universidade de Oxford - dados sobre evolução das vacinas contra a covid-19
- Bloomberg - listagem que permite seguir o número de vacinas já administradas no mundo
- Especial sobre o novo coronavírus / Covid-19
- Covid-19 DGS/Ministério da Saúde - mapa dos números
- Covid-19 DGS - relatórios de situação diários
- Linha SNS24
- Direção-Geral da Saúde (DGS)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- ECDC - Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças
- London School of Hygiene & Tropical Medicine (gráfico que mostra o progresso dos projetos de vacina)