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Ozempic, Wegovy, Mounjaro: que injeções são estas que prometem milagres na perda de peso?

Ozempic, Wegovy, Mounjaro… todos os dias ouvimos falar de uma nova injeção que promete milagres na perda de peso. Mas que injeções são estas e quando é que podem, de facto, fazer sentido?

Margarida Graça Santos

Apesar de terem nomes diferentes – porque variam na dose e na substância ativa –, todos estes medicamentos pertencem ao mesmo grupo: os agonistas do GLP-1. Um nome complexo que significa que são fármacos que imitam o efeito de uma hormona chamada GLP-1.

E é útil serem semelhantes a esta hormona, porque ela tem um papel muito importante na regulação do açúcar no sangue, garantindo que este se mantém em níveis adequados. Para além disso, faz com que a comida saia do estômago mais devagar, tornando a digestão mais lenta e prolongando a sensação de saciedade. Também no cérebro, ajuda a reduzir o apetite.

Por ter um papel tão relevante na regulação dos níveis de açúcar, estes medicamentos foram inicialmente estudados para tratar a diabetes. Mas percebeu-se que alguns deles levavam igualmente à perda de peso, tornando-se interessantes para o tratamento da obesidade.

A primeira linha de tratamento da obesidade é, na maioria das vezes, a alteração do estilo de vida. Mas, em alguns casos, pode fazer sentido recorrer a medicação. Como em indivíduos com IMC acima de 30 ou acima de 27 com alguma comorbilidade, que não tenham conseguido manter uma perda de peso depois de 3 a 6 meses e que não tenham contraindicações.

Raramente é uma solução por si só - já que na maioria dos casos, quando para a medicação, o peso volta a subir. Se não aliarmos a estes medicamentos mudanças estruturais no estilo de vida, dificilmente as coisas mudam a longo prazo.

Estado só comparticipa para diabéticos

Atualmente, esta medicação só é comparticipada pelo Estado se for prescrita a um utente com diagnóstico de diabetes. E, apesar de ser um tema controverso, compreende-se que seja injusto que quem tem obesidade e cumpre critérios para fazer tratamento tenha de pagar 200 ou 300 euros para ter acesso ao medicamento.

Se a obesidade é uma doença altamente prevalente, muitas vezes antecedendo a diabetes e a hipertensão, por que temos de esperar que estas apareçam para que o medicamento seja comparticipado? E se a cirurgia bariátrica é uma opção contemplada pelo SNS, não faria sentido que a medicação, quando indicada, também fosse?

Mas, até lá, a verdade é que se não tem diabetes, não tem direito a este medicamento de forma comparticipada – e estas são as regras.

Para os casos em que estas injeções não são usadas para tratar uma doença, mas sim para perder 3 ou 4 quilos até ao verão, é importante lembrar que qualquer medicação tem riscos. Estar indicada para obesidade não significa que possa ser usada de forma segura por pessoas saudáveis. Lembre-se de que não há injeção que resolva uma má relação com o corpo, com a comida ou com o peso.

Este tema dava para um podcast inteiro, mas hoje o mais importante é que saiba o seguinte: se tem obesidade ou diabetes e quer perceber mais sobre estas injeções, fale com o seu médico ou endocrinologista e procure uma abordagem multidisciplinar.

Se não tem obesidade nem diabetes, saiba que a toma do medicamento tem riscos, e que provavelmente há soluções mais adequadas para a sua situação.

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