Há uma percepção generalizada de que o tabaco aquecido não faz tão mal. E para isso, contribuem as marcas que o vendem. Da mesma forma que, nos anos 70, a Camels se promovia com a frase “o tabaco que o seu médico aconselha” e a Lucky Strike dizia que os seus cigarros “ajudavam na irritação da garganta”, hoje em dia não é raro irmos a um festival de verão e vermos um stand de tabaco aquecido com slogans como “Um mundo sem fumo”.
Ora, isto atrai cada vez mais pessoas para o seu consumo, seduzidos pela ideia enganadora de que o tabaco aquecido é de alguma forma mais seguro. Será mesmo? Veja o vídeo da Consulta Aberta para saber mais sobre este assunto.
Tabaco aquecido é diferente de cigarro eletrónico
Primeiro é importante perceber que o tabaco aquecido é diferente do cigarro eletrónico. Apesar de ambos serem alternativas eletrónicas, o cigarro eletrónico ou VAPE, vaporiza um líquido, que pode ter nicotina e outras substâncias. Já os produtos de tabaco aquecido, aquecem o tabaco, sendo frequentemente chamados de “heat not burn”.
Esta nova forma de fumar alega que por aquecer em vez de queimar o tabaco, tem menos substâncias nocivas e que por isso são uma boa alternativa ao cigarro convencional. E de facto, estudos mostraram que algumas substâncias tóxicas estão em menor concentração, mas isto não se aplica a tudo e há até alguns componentes que acabam por ser intensificados.
Mais do que dosagens e concentrações, o que nos interessa saber na prática é se o tabaco aquecido é mais seguro e leva a menos risco de doenças do os cigarros convencionais? E aí a resposta é clara: nenhum estudo até ao dia de hoje garante que estes produtos são mais seguros. E associam-se a doenças muito parecidas com as dos cigarros tradicionais, incluindo cancro, doenças respiratórias e doenças cardíacas.
Tabaco aquecido ajuda a deixar de fumar?
Se escolheu o tabaco aquecido porque quer deixar de fumar e acha que pode ser uma boa estratégia, também tenho más notícias. Nada prova que seja um método que ajude a deixar de fumar, e pode até acabar por fazer com que adie a cessação tabágica.
Por não ter um cheiro tão ativo é frequente que se comece a fumar em sítios onde não fumava: dentro do carro, dentro de casa ou até ao pé de crianças. Tudo isto tem riscos. Lembre-se também que a nicotina, responsável por parte da dependência ao tabaco, está presente de igual forma nas duas formas de fumar.
Fumar tem riscos conhecidos e estas novas alternativas não parecem ser mais seguras, e também não têm estudos com qualidade que avaliam os seus riscos a longo prazo. Por isso, quer seja tabaco aquecido ou convencional, o mais importante é que esteja consciente dos riscos que fumar implica, e que saiba que existem alternativas farmacológicas e não farmacológicas que efetivamente funcionam e o podem ajudar a deixar de fumar.
Só assim pode garantir que reduz o risco de envelhecimento precoce, de doenças cardíacas e respiratórias, de problemas de dentes, e essencialmente, que para além de viver mais anos, os vive com maior qualidade de vida.