Conflito Israel-Palestina

Israel rejeita em tribunal acusação de genocídio contra povo palestiniano

Advogado de Israel descreveu as acusações de genocídio formuladas como "totalmente distorcidas" e considerou que não refletem a realidade do conflito na Faixa de Gaza.

Joana Costa de Sousa

Lusa

Israel negou esta sexta-feira no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) pretender destruir o povo palestiniano em Gaza, ao defender-se das acusações de genocídio formuladas pela África do Sul junto do mais alto tribunal da ONU.

"O que Israel procura ao operar em Gaza não é destruir um povo, mas proteger um povo, o seu próprio povo, atacado em múltiplas frentes", afirmou Tal Becker, um dos advogados de Israel perante o TIJ.

Becker descreveu as acusações de genocídio formuladas contra Israel como "totalmente distorcidas" e considerou que não refletem a realidade do conflito na Faixa de Gaza.

A África do Sul "infelizmente apresentou ao tribunal um quadro factual e jurídico totalmente distorcido", afirmou Becker ao TIJ, em Haia, citado pela agência francesa AFP.

O Estado sul-africano apresentou em dezembro um pedido urgente ao TIJ para que ordene a Israel que "suspenda imediatamente as operações militares" na Faixa de Gaza.

A pretensão foi formalizada no primeiro de dois dias de audiências no TIJ na quinta-feira, pelos advogados da acusação.

A guerra entre Israel e o Hamas

A guerra entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas em solo israelita, em 7 de outubro, que causou cerca de 1.400 mortos, segundo as autoridades.

Em represália, Israel prometeu aniquilar o Hamas, no poder em Gaza, e lançou uma ofensiva no território palestiniano que causou mais 24.000 mortos, de acordo com dados do Hamas.

O ministro da Justiça sul-africano, Ronald Lamola, alegou ao TIJ na quinta-feira que nem mesmo o ataque do Hamas pode justificar alegadas violações da Convenção da ONU sobre o Genocídio, assinada em 1948, na sequência do Holocausto.

"Vivemos numa época em que as palavras são baratas, na era das redes sociais e das políticas de identidade. A tentação de usar o termo mais ultrajante [genocídio] para difamar e demonizar tornou-se, para muitos, irresistível", argumentou Becker.

Com a ajuda de vídeos e imagens, o advogado de defesa de Israel deu aos magistrados uma imagem dos horrores que acredita terem sido cometidos durante o ataque do Hamas.

Os membros do Hamas "torturaram crianças em frente dos pais, pais em frente dos filhos, queimaram pessoas" e foram culpados de violação e mutilação, afirmou, citado pela AFP.

Israel está empenhado numa guerra de defesa contra o Hamas

O advogado disse que a resposta de Israel foi um ato de autodefesa e não visou civis, e que "Israel está empenhado numa guerra de defesa contra o Hamas e não contra o povo palestiniano".

Nestas circunstâncias, "não poderia haver uma acusação mais falsa ou maliciosa do que a acusação de genocídio contra Israel", acrescentou, perante um auditório lotado no Palácio da Paz em Haia.

Israel boicota frequentemente os tribunais internacionais e as investigações da ONU, afirmando que são injustas e tendenciosas.

Mas, num sinal da seriedade com que encara o caso em apreciação no TIJ, deu o raro passo de enviar uma equipa jurídica de alto nível, notou a agência norte-americana AP.

A África do Sul afirmou que a resposta israelita ao ataque do Hamas equivale a genocídio e faz parte de décadas de opressão israelita sobre os palestinianos.

"A intenção articulada é a destruição da vida palestiniana", disse o advogado Tembeka Ngcukaitobi nas declarações iniciais, na quinta-feira.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, rejeitou esses argumentos numa declaração em vídeo.

"Este é um mundo de pernas para o ar: o Estado de Israel é acusado de genocídio enquanto luta contra o genocídio", afirmou.

"A hipocrisia da África do Sul brada aos céus", considerou, citado pela AP.

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