O ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, foi esta quinta-feira constituído arguido no âmbito do processo que investiga o roubo de armas em Tancos.
O Ministério Público acusa Azeredo Lopes de denegação de justiça, tendo sido presente a juiz na qualidade de arguido não detido.
O ex-ministro demitiu-se do cargo em outubro do ano passado para, segundo disse, evitar que as Forças Armadas fosem "desgastadas pelo ataque político" e pelas "acusações" de que disse estar a ser alvo por causa do processo de Tancos.
Dias antes da demissão, Vasco Brazão, antigo porta-voz na Polícia Judiciária Militar, tinha garantido em tribunal que o então ministro da Defesa teve conhecimento do encobrimento no caso das armas de Tancos.
Ainda esta quinta-feira tinha sido constituído mais um arguido no processo de Tancos. O mais recente suspeito é um técnico da Polícia Judiciária Militar.
Ao que a SIC apurou, o homem, com cerca de 30 anos, terá participado na encenação ao aparecimento das armas. Foi constituído arguido e presente ao juiz de instrução João Bártolo, mas não foi detido.
Junta-se a um leque de arguidos que inclui o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar e outros altos quadros da instituição, militares da GNR de Loulé e o grupo que organizou e executou o assalto.
Em causa estão suspeitas de terrorismo internacional, tráfico de armas e associação criminosa, entre outros crimes.
A queda de um ministro e de um chefe do Exército
O furto de material militar dos paióis de Tancos, em 28 de junho de 2017, originou a queda de um ministro, de um chefe do Exército, um inquérito parlamentar e um processo judicial, em fase de conclusão.
A notícia chegou a meio da manhã de 29 de junho e foi o início de um processo tumultuoso, em que os partidos da oposição, e até os que apoiam o Governo minoritário, apontaram ao então ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, que só se demitiu passados meses, e até ao primeiro-ministro, António Costa.
O Exército, a quem cabia a responsabilidade da segurança das instalações, também esteve sob fogo, em especial o então chefe do Estado-Maior (CEME), Rovisco Duarte, e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (CEMGFA) à data, Pina Monteiro, reconheceu que o furto foi um "soco no estômago" dos militares.
No dia 28 de junho, as primeiras informações foram pouco precisas sobre o material furtado -- explosivos, granadas de gás lacrimogéneo e granadas foguete anticarro --, mas Azeredo Lopes admitiu a gravidade da situação.
As semanas seguintes são agitadas, com as demissões, pelo CEME, dos comandantes responsáveis pela segurança dos paióis nacionais, e readmitidos três semanas depois, e a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a Tancos, pedindo o apuramento de "tudo, de alto a baixo, até ao fim, doa a quem doer".
A primeira notícia sobre a lista do armamento furtado só foi divulgada, em Espanha, pelo jornal El Español - cerca de 1.500 balas 9 mm, granadas, explosivos e 44 granadas-foguete anticarro, ente outro material.
Começam as pressões para a demissão de Azeredo Lopes e Rovisco Duarte e em 3 de julho foi Assunção Cristas, presidente do CDS, a primeira a defender a saída do ministro da Defesa Nacional do Governo, hipótese que António Costa vai recusando, em sucessivas intervenções, ao longo dos meses seguintes.
Uma constante dessas semanas e meses seguintes foram as exigências pelo total esclarecimento do caso feitas pelo Presidente da República.
Na frente judicial, em 4 de julho, o Ministério Público abriu um inquérito por suspeitas de prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo, numa investigação liderada pela Polícia Judiciária (PJ), em colaboração com Polícia Judiciária Militar (PJM).
É decretado o reforço de segurança dos paióis de Tancos e todo o material foi transferido para outras instalações.