Alterações Climáticas

"Uma situação terrível": degelo da Antártida continua a atingir recordes

O gelo marinho atingiu os níveis mais baixos de sempre este inverno na Antártida. Os especialistas voltam a alertar para o grave impacto do degelo a nível global e as consequências no habitat de espécies como o pinguim-imperador.

Elisa Macedo

Ana Isabel Pinto

O gelo marinho atingiu os níveis mais baixos de sempre este inverno na Antártida, avançou o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA (NSIDC) esta segunda-feira. Para além do impacto a nível global, estas alterações podem ter graves consequências no habitat dos animais no Polo Sul. Um novo alerta volta a surgir, os especialistas explicam que o pinguim-imperador está entre as espécies mais afetadas.

“O gelo marinho é muito importante nos ecossistemas e é muito importante no clima. Assim, por exemplo, o gelo marinho é o habitat para várias criaturas. Temos ouvido bastante nas notícias sobre os pinguins-imperadores. É realmente terrível, mas os pinguins-imperadores que vivem no gelo marinho”, diz Ariaan Purich, da Universidade de Monash, na Austrália, em entrevista à agência Reuters.

No hemisfério sul, as estações são invertidas, o gelo marinho geralmente alcança o pico em setembro, perto do fim do inverno e posteriormente derrete até ao seu ponto mais baixo em fevereiro ou março, quando o verão termina.

A extensão do gelo marinho antártico no verão também atingiu um mínimo recorde em fevereiro, quebrando a marca anterior estabelecida em 2022.

“Em novembro de 2022, o gelo marinho já estava a diminuir. Este foi o início do verão, com baixo nível de gelo marinho, que tivemos nesse ano. Numa região em torno da Antártida existem várias colónias de pinguins-imperadores, o gelo marinho derreteu antes que as crias de pinguins estivessem prontas para nadar. E os filhotes têm penas fofas, não sabem nadar, e não conseguem secar-se quando caem na água. Assim, o gelo marinho derreteu e estes pinguins não sobreviveram. Foram mais de 9.000 pinguins. Esta é uma história terrível. É uma situação terrível que mostra que o gelo marinho é importante para os ecossistemas do Oceano Antártico e da Antártida”, sublinha Ariaan Purich.

O Oceano Ártico, que rodeia a Antártica, foi duramente atingido pelas alterações climáticas ao longo da última década, com o gelo marinho a deteriorar-se rapidamente à medida que a região norte aquece quatro vezes mais rapidamente do que a média global.

Os cientistas receiam que o aquecimento global possa fazer com que o gelo desapareça na região. As consequências do degelo têm impacto no clima mundial e na subida do nível do mar.

A extensão do gelo marinho da Antártica atingiu o pico este ano, a 10 de setembro, quando cobriu 16,956 milhões de quilómetros quadrados, o nível mais baixo verificado no inverno desde que tiveram início os registos de satélite em 1979, indicou o NSIDC. Estes dados representam cerca de 1 milhão de quilómetros quadrados a menos de gelo do que o recorde anterior de inverno estabelecido em 1986.

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