José Gomes Ferreira, da SIC, alerta para a corrupção no Governo. No dia em que o Ministério Público realiza buscas num processo que envolve um núcleo próximo do primeiro-ministro, o jornalista da SIC dá algumas explicações sobre os negócios de lítio e hidrogénio verde.
Pelo menos cinco pessoas foram detidas no âmbito de um processo que investiga, desde 2019, os negócios do hidrogénio e do lítio. O empresário Diogo Lacerda Machado - conhecido como o "melhor amigo" de António Costa -, o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara Municipal de Sines, o socialista Nuno Mascarenhas, e dois executivos de empresas estão entre os detidos.
"A corrupção está instalada no coração do Governo. Como se vê, o próprio chefe de gabinete do primeiro-ministro sabe dos negócios porque isto tem de passar tudo ele. Esta semana, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça veio dizer 'atenção que há corrupção em grande escala no nosso país' e ninguém se indignou", afirma.
No SIC Notícias Manhã, começa por explicar o que é um "voluntarismo de Estado", que se aplica que "nem uma luva": é "lançar grandes negócios por oposição ao modelo em que o Estado deve deixar as empresas fluir em mercado e escolher os seus próprios objetivos e fazer os seus próprios negócios".
Nos primeiros anos do Governo de António Costa, era ministro da Economia Manuel Caldeira Cabral e secretário de Estado Jorge Seguro Sanches, lembra José Gomes Ferreira.
Os dois, esclarece, fizeram um diploma que era a base da exploração do lítio em Portugal e lançaram as bases da transição energética, que passaria também pelo hidrogénio verde.
A seguir, vieram Matos Fernandes e João Galamba, que perdurou até Duarte Cordeiro.
Tudo o que estava "bem previsto" foi “subvertido e transformado em grandes negócios de Estado”, aponta José Gomes Ferreira. Depois, aparece uma "suspeita que reunia grandes empresas do regime" - Galp, EDP e REN - para fazer uma "gigantesca fábrica" de hidrogénio em Sines.
"Mais tarde, aumenta-se as taxas de carbono para inviabilizar aquilo que era a produção de eletricidade na central de Sines a partir de carvão, inviabiliza-se a unidade industrial moderna, fecha-se e a seguir aparece um projeto liderado pela EDP, a grande empresa do regime", explica.
O que está em causa?
A central a carvão de Sines produzia eletricidade a 20/30 euros o megawhatt, consoante a cotação do carvão, refere José Gomes Ferreira, que acrescenta que o hidrogénio verde vai produzir entre 350/450 o megawhatt por hora.
"O que estamos a ver? Fecharam deliberadamente para ir ganhar muito mais dinheiro, com a conivência dos governantes ou, se calhar, proatividade dos governantes".
José Gomes Ferreira refere que "o espelho da equação" é uma "tragédia" para o país:
"Entretanto, veio a pandemia e veio um PRR, que foram endividar-se nos mercados para trazer dinheiro para os países que precisavam de se reindustrializar. As fábricas normais continuaram a fechar, as grandes centrais de energia a carvão fecharam, a refinaria de Matosinhos fechou", destaca.
José Gomes Ferreira realça ainda que apostaram todos em fazer um "megaprojeto para ganhar 10 vezes mais":
"Não industrializámos o país e apostámos numa forma de energia que custa, pelo menos, 10 vezes mais e que não tem nada ainda feito no terreno, mas que tem grandes suspeitas de corrupção".