Economia

Como aliviar a subida das taxas de juro?

O valor das prestações, a subida do preço do dinheiro - a expressão popular mais eficiente para designar a realidade - vai continuar a aumentar. José Gomes Ferreira explica quais as consequências na vida das famílias e como mitigar este cenário.

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José Gomes Ferreira

SIC Notícias

As famílias que estão endividadas para a compra de casa terão uma fatura acrescida. Tecnicamente a compra de casa é um investimento, e é bom para a economia. Mas quando o custo do financiamento para esse investimento se torna muito pesado, e às vezes incomportável, havendo dificuldade de pagar, nós sabemos como é que esta realidade pode acabar.

Já aconteceu noutros períodos da história económica e financeira do país.

Quando as famílias e as empresas têm custos acrescidos, por vezes não conseguem pagar. E quando o somatório desses agentes económicos é muito grande, isso impacta nos balanços dos bancos.

Sabemos, na história recente, o que teve que acontecer para recapitalizarmos os bancos: fomos todos chamados a contribuir. Esperemos que esta última parte não se confirme. Não é uma previsão, é um alerta. Que a economia vai andar quase numa estagnação? Vai. E os juros vão subir, agravando ainda mais a fatura das empresas e das famílias.

Esperemos que em 2024 este cenário seja diferente e já melhore.

Há alguma forma de as famílias acautelarem essa subida de juros?

Há algumas medidas que podem ajudar a mitigar o impacto, mas para a maioria das famílias que têm de comprar casa não há grande alternativa porque têm que se sujeitar às condições do mercado e muitas não têm o dinheiro suficiente para amortizar tudo de uma vez ou não têm o poder negocial suficiente para dizer que pedem aos bancos para estender os prazos.

Isso pode ser feito, por exemplo, para quem comprou casa no último ano?

Há um leque enorme de possibilidades, mas a sua eficácia é relativamente pequena face ao conjunto dos créditos à habitação. Muita gente não consegue estender por mais anos o prazo de pagamento porque os próprios bancos não aceitam.

Pagar antecipadamente ou amortizar antecipadamente grandes quantias, muita gente não tem essa possibilidade.

Negociar com bancos períodos de carência só em último caso é que os bancos aceitam. Havendo muitas hipóteses, não é assim tão fácil aplicá-las

Há uma que diz respeito a muita gente: pedir ao banco para se fixar uma taxa. Isso parece muito interessante do ponto de vista teórico. Mas, na verdade, os bancos têm bons economistas que sabem prever que os movimentos de oscilação do volume de taxas de juro e de inflação podem ser bem aproveitados pelos bancos para ganhar ainda mais dinheiro.

Quando se fixa uma taxa é sempre muito mais alta, portanto, estamos muito mais tempo a pagar acima daquilo que é diferencial entre as variações naturais de mercado e o nível mais alto da taxa de juro fixa porque os bancos não se deixam enganar e cobram ainda mais por isso.

Para quem quer comprar, também não é uma boa altura?

Depende, há sempre boas oportunidades. Aliás, em períodos de mais estagnação ou até recessivos, para quem amealhou antes, pode haver negócios interessantes para comprar porque os preços hão-de moderar-se ou até descer relativamente.

A decisão de comprar ou vender é micro, é mesmo de cada família, de cada pessoa ou de cada empresa, dependendo da sua situação. Claro que o somatório dos agentes económicos em estagnação ou em recessão é negativo, mas há sempre oportunidade para alguns.


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