O antigo governador do Banco de Portugal, numa entrevista ao Observador e à rádio Observador, afirma que se se tivesse demitido só teria dado eficácia a quem lhe telefonou.
Carlos Costa falava de um telefonema do primeiro-ministro António Costa, feito duas horas depois de se ter reunido com Isabel dos Santos. O, na altura, governador do Banco de Portugal tinha comunicado à filha de José Eduardo dos Santos e a Fernando Teles, que, apesar de serem acionistas do BIC, não tinham idoneidade para serem administradores do banco.
O antigo governador descreve uma chamada telefónica "muito curta", num tom "irritado" e "agreste". Carlos Costa acusa António Costa de o ter pressionado para não afastar Isabel dos Santos do banco BIC.
António Costa confirmou que telefonou a Carlos Costa depois de uma reunião em que o Banco de Portugal tentou afastar a empresária angolana do BIC em 2016, mas desmente que tenha dito que não se podia "tratar mal a filha do Presidente de um país amigo".
Na mensagem a que também o Observador teve acesso, António Costa disse que contactou o governador para sublinhar que a decisão era inoportuna, tendo em conta que decorria um processo de venda da participação de Isabel dos Santos no BPI aos espanhóis La Caixa.
Nesta mensagem, o primeiro-ministro sublinhou que sempre agiu para reduzir a influência de Isabel dos Santos na banca portuguesa e critica Carlos Costa por não ter ajudado nesse objetivo.
Marcelo Rebelo de Sousa também já disse que ninguém evitou medidas "desfavoráveis" a Isabel dos Santos e sublinhou que Carlos Costa, António Costa e o próprio estavam alinhados quanto à decisão a tomar no caso que envolvia Isabel dos Santos.