Depois do anúncio do Banco Central Europeu (BCE), que ao fim de 11 anos decidiu subir em 0,5% as taxas de juro, a comentadora SIC e analistas de mercado, Catarina Castro, explicou na SIC Notícias o impacto que esta decisão terá na vida das famílias e empresas.
“Confirma-se a expectativa mais alta que tínhamos, que era a subida destes 0.50 pontos base para a subida de taxas, a maior dos últimos 11 anos e aquela que coloca a taxa de refinanciamento do mercado interbancário já a caminho de terreno positivo. Isto é uma decisão de mudar a política que, até agora, estava a ser um bocadinho mais de reação para uma política alinhada com os restantes Bancos Centrais mundiais e isso é positivo”, começou por dizer.
A analista explicou que “a decisão em si é uma decisão positiva, ao contrário daquilo que aconteceu há onze anos com [Jean-Claude] Trichet. Trichet cometeu o maior erro da política monetária, historicamente falando, porque acabou por subir taxas no momento em que a evolução e o escalar do preço do petróleo era realmente muito alta - foi a primeira vez que o preço do petróleo ultrapassava os 100 dólares por barril”.
Neste momento, estamos exatamente ao contrário
A paragem da economia
Catarina Castro considerou que “corremos o risco de ter de parar a economia e essa é a mensagem mais difícil de hoje [quinta-feira]”.
A analista afirmou que há duas métricas para combater a inflação:
- “Existir um reajuste daquilo que é a capacidade de fornecimento de bens e serviços à economia, que neste momento não é possível e ainda mais com um conflito geopolítico que vem colocar em causa os próximos seis meses ou mais em termos de período conturbado de pressões inflacionistas, uma China que tem momentos distintos de confinamento e desconfinamento e que atrapalha a economia mundial pelo facto de se ter tornado a fábrica global de muitos produtos que chegam a várias geografias”;
- “Parar o consumo. Mas parar o consumo é induzir, do ponto de vista médico, uma economia numa recessão de um ou dois trimestres e realmente obrigar o consumo a parar. Esse parar do consumo durante um ou dois trimestres vai ter consequências que são (...) o empobrecimento contínuo da população (...), por outro lado colocará em risco, especialmente a partir de outubro/novembro, decisões do mercado de emprego”.
A subida das taxas de juro e a inflação
A comentadora SIC explicou que “esta medida, o que faz é garantir que retire rendimento às famílias e obrigá-las a não consumir. É a tal paragem cardíaca da economia. Essa paragem tem que depois (...) ter que ser reativada com medidas específicas e provavelmente muito locais, muito mais a nível de Estado a Estado”.
Não é de todo um momento fácil para famílias nem para empresas
Catarina Castro disse que o efeito da recessão poderá começar a sentir-se “de setembro para a frente”.
Significa menos rendimento disponível. É realmente uma perda para as famílias portuguesas. É um empobrecimento
O impacto no crédito à habitação
A analista afirmou que “vai ter consequências nas prestações de todos os meses. Aliás, as taxas da Euribor a 12 meses mantêm-se acima do 1% e provavelmente, com esta decisão, irão rapidamente chegar ou ultrapassar o 1,5%, chegando mesmo a 2%”.
Provavelmente, o ponto de equilíbrio será igual aquilo que a Reserva Federal norte-americana já indicou para o mercado do outro lado do Atlântico, que é chegar algures entre a métrica dos 2 a 3%
“Apertar o cinto”
A comentadora SIC disse que “o problema é que num país ou num Estado endividado, como é o caso de Portugal e como maioritariamente é o tecido familiar e empresarial português, têm consequências muito significativas a nível de disponibilidade de rendimento e necessidade de ‘apertar o cinto’ para todos nós”.
Quais são as áreas afetadas?
Catarina Castro explicou que “é em qualquer área que esteja dependente de crédito, porque o refinanciamento da economia portuguesa está francamente linkado e dependente desta mesma opção que é o tomar crédito”.
Tudo isto é um custo para o país, para as famílias e para o tecido empresarial
O que os portugueses devem fazer?
A mensagem é planear. Planear para taxas de juro que estejam acima dos 2% e se isso for possível comportar a nível de orçamento familiar então sim, avançar. E prepararmo-nos todos para manter este nível de pressão inflacionista nos próximos seis, oito meses
A analista aconselhou que as pessoas devem “acima de tudo informar-se” e que não devem “ter vergonha de se informar”.
A contratação de um crédito à habitação é uma decisão de vida (...) e portanto, quando o fizerem, que o façam com toda a informação disponível, analisando cenários alternativos, taxa de juro fixa ou variável. É sempre melhor fazer o trabalho de casa antes de tomar a decisão
O impacto na vida dos jovens
Catarina Castro não se mostrou muito otimista, afirmando que “vai ser ainda mais difícil".
Cada vez mais ficará em causa o tema da empregabilidade