Dos combustíveis à alimentação, nos últimos meses as contas de bens e serviços têm aumentado.
Em março, a inflação atingiu 5,3%, o valor mais alto em 28 anos, e o Governo prevê que a taxa aumente para 4% em 2022. Mas o que é a inflação e o que podemos fazer para atenuar este aumento generalizado de preços?
De acordo com o Banco Central Europeu, a inflação ocorre quando se verifica um aumento geral dos preços dos bens e serviços, não apenas em artigos específicos: “Significa que, com 1 euros, se compra menos hoje do que ontem. Por outras palavras, a inflação reduz o valor da moeda ao longo do tempo.”
Falámos com os economistas João Duque e Luís Aguiar-Conraria, para tentar perceber o que as pessoas podem fazer no dia a dia para poupar.
No supermercado:
- Fazer uma lista de compras antes de sair de casa. Isto evita esquecimentos e ajuda no planeamento;
- Consultar sites ou catálogos de promoções para saber o que deve comprar antes de chegar ao supermercado;
- Não ir às compras com fome;
- Ter atenção ao preço por unidade (por exemplo, por 100 gramas ou por kilogramas) quando compara embalagens de produtos;
- Fazer as compras em dois ou três supermercados e aproveitar as promoções de todos;
- Fazer as compras em supermercados de preços mais baixos;
- Visitar as feiras, onde às vezes os preços podem ser mais baixos.
Em casa:
- Fazer um orçamento familiar, “retirar” para uma conta à parte as despesas obrigatórias e deixar para outra conta os supérfluos, com um máximo de valor que não pode ser ultrapassado;
- Cozinhar para várias refeições;
- Baixar a temperatura do banho na caldeira do gás: “Para quê aquecer a água a 60º para depois destemperar com água fria? Baixe para os 40/45º à saída da caldeira”;
- Reduzir na água utilizada no banho, a lavar os dentes e nas descargas do autoclismo;
- Tentar as tarifas bi-horárias na eletricidade e depois ligar as máquinas apenas no horário mais barato;
- Desligar as luzes quando não se está nessa divisão da casa;
- Estar atento aos consumos extra a partir dos níveis contratados (pacotes de dados extra são muito caros);
- Comparar os preços de diferentes fornecedores de eletricidade, gás, serviços de televisão por cabo, etc.
Fora de casa:
- Evitar refeições fora quando as contas já estão no limite: “Se os amigos forem jantar fora e já estiver com pouco dinheiro na conta de supérfluos, vá lá ter para beber o café”;
- Voltar a usar a lancheira para as refeições no trabalho;
- Estar atento às promoções.
Empréstimos e dívidas:
- Ter cuidado com “empréstimos manhosos” (como cartões de crédito com saldos a transitarem para os meses seguintes), em que as taxas de juro são altas: “Por muito embaraçoso que seja, se precisar de dinheiro extra não tenha vergonha. Os amigos são para isso”;
- Se está com dificuldade em pagar alguma dívida a uma instituição financeira, recorra a ajuda oficial. As instituições são obrigadas a preparar planos razoáveis para amortização de dívidas.
Para Luís Aguiar-Conraria, é essencial olhar para os pequenos hábitos diários e as coisas com que se gasta pouco dinheiro por dia: “Ao fim do mês esses gastos podem ser significativos como serão as poupanças se deixar de os ter”.
João Duque diz que se deve comparar os preços dos bens e serviços necessários, estar atento às promoções, restringir as compras no supermercado àquilo que é realmente necessário e planear um orçamento familiar.
Vem aí austeridade?
O economista e professor do ISEG, João Duque, explicou na SIC Noticias que “chamem-lhe o que quiserem”, o aumento da inflação significa menos rendimento real.
“Quando a inflação é 4% e sou aumentado menos que isso, isso significa menos rendimento real. Ou consome menos ou poupa menos. Quem já não conseguia poupar, terá mesmo que deixar de consumir”, alerta.
Começou por dar o exemplo dos pensionistas, que vão ter um aumento fixo de 10 euros em pensões até 1.108 euros por mês. Nas pensões mais altas, o aumento representa 1%, o que significa que “não cobre a inflação” de 4%.
João Duque explicou ainda que a inflação se mede através de um “cabaz de coisas que está fixado”, observando-se o custo desse capaz ao longo do tempo.
“O que acontece é que se este cabaz de hoje ficar sem aumentar os preços até ao fim do ano de 2022, em média o ano já ia subir 4,2%, então acho que a previsão da inflação é generosa. Se fosse eu a prever seria mais conservador”, diz, referindo-se à previsão do Governo de 4%.