Economia

Bill Clinton elogia "trabalho notável" de Portugal para sair da crise

O ex-Presidente norte-americano Bill Clinton  defendeu hoje, em Lisboa, que Portugal "fez um trabalho notável" para sair  da crise financeira, "ao recuperar até um nível em que o crescimento económico  é possível". 

Na conferência sobre "A atual situação económica mundial" que proferiu  na Universidade Europeia, na qualidade de chanceler honorário das Laureate  International Universities, Clinton frisou que esta é a primeira universidade  privada criada em Portugal nos últimos 20 anos e que "a melhor estratégia  a longo prazo para o país é apostar na educação, melhorar as condições de  empregabilidade, investir no país de amanhã". 

"Eu não sou um especialista em Portugal, mas acho que enfrentaram este  período difícil e se saíram bastante bem. São agora novamente livres para  criar um novo futuro", sustentou, acrescentando que esse futuro passará,  obrigatoriamente, "pela restruturação da dívida". 

Em seguida, o ex-inquilino da Casa Branca comentou que "é bom para o  mundo quando há bons exemplos, sítios onde as coisas resultaram, isso cria  um horizonte de esperança". 

Quanto ao projeto de integração europeia, o 42. Presidente dos Estados  Unidos (1993-2001) sublinhou que sempre acreditou nele, mas que "seria ingénuo  achar que seria fácil". "A ideia europeia torna-se menos atraente quando parece ser todos os  dias sinónimo de privação económica", observou. 

Sobre as eleições para o Parlamento Europeu, que decorreram entre 22  e 25 de maio nos 28 Estados- membros da União Europeia e nas quais se registou  uma elevada taxa de abstenção, Clinton considerou que os partidos devem  analisar estes resultados com atenção. 

Ao abster-se e ao votar em separatistas, extremistas e eurocéticos,  argumentou, "o público está a dar um sinal de alerta aos políticos de que  tem de haver uma responsabilidade partilhada e uma prosperidade partilhada".

Declarando-se "nada surpreendido" com esta repercussão da crise europeia  nas urnas, Clinton explicou porquê: "Quando a ideia europeia nasceu, criou  a expectativa de que pudesse haver prosperidade e liberdade em todo o lado, (mas) o sonho europeu envolve um debate sobre a identidade que decorre nas  mentes e corações de centenas de milhões de pessoas sobre o que têm em comum  e o que as diferencia". 

Ora, como concluíram os cientistas responsáveis pela sequenciação do  genoma humano, em 2000, financiado pelo Governo democrata de Clinton, os  seres humanos são 99,5 por cento iguais e, portanto, apenas 0,5 por cento  diferentes, referiu. 

"Somos todos 99,5 por cento iguais e, no entanto, passamos o tempo concentrados  nos restantes 0,5 por cento. Temos de concentrar-nos no que temos em comum  e naquilo de que temos de abdicar para termos mais", insistiu, notando que  "quando as pessoas trabalham em conjunto, em comunidade, boas coisas acontecem  -- embora não façam manchetes -, mas onde as pessoas se concentram nas suas  diferenças, não avançam". 

"A nossa identidade é importante, mas a nossa humanidade comum é mais  importante", salientou, acrescentando que a mudança de mentalidades "demora  tempo", como se pode ver pela quantidade de anos que os Estados Unidos levaram,  por exemplo, para abolir a escravatura. 

Como vivemos num mundo interdependente, e "a interdependência pode ser  boa ou má, mas não se pode evitar", resta "a todos os países definirem --  e é essa a sua maior tarefa -- os termos da sua interdependência", por forma  a maximizar os benefícios e a minimizar os aspetos negativos, vincou. 

"Estamos condenados a partilhar o futuro, e é bom que nos dediquemos  a definir melhor os termos dessa partilha, porque atualmente o mundo é demasiado  desigual e a desigualdade causa instabilidade, que se estende também à política",  concluiu Bill Clinton. 

 

     

 

Lusa

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