Desporto

Mourinho deixa todos a um canto

A começar por Rui Costa, no universo Benfica ninguém está acima do Special One antes e… depois das eleições.

RITA FRANCA

João Rosado

No espaço de um mês, isto é, nos últimos 30 dias, José Mourinho (JM) já falou com quatro presidentes. Pelo menos. É mais uma estatística impressionante do ícone que partiu em busca de vários recordes quando no arranque do milénio rasgou o papel de simples adjunto.

Com a média de uma conversa presidencial por semana, o sucessor de Bruno Lage despediu-se de Ali Koç (ex-presidente do Fenerbahçe, derrotado por 257 votos nas eleições deste domingo), aterrou de jato em Lisboa para negociar com Rui Costa e depois de tudo acertado fez questão de oficializar a informação junto de Frederico Varandas e de André Villas-Boas.

Ali Koç
Anadolu

Não é público que tenha abordado Pedro Proença, mas mesmo que ainda seja cedo para essas conversas com o líder da Federação Portuguesa de Futebol (o Mundial da América do Norte só vai realizar-se no próximo ano), o número de contactos VIP encetados por Mourinho arrancaria facilmente do seu antigo adjunto uma classificação similar àquela que usou para caracterizar para sempre Jorge Nuno Pinto da Costa.

Em abril de 2024, Villas-Boas apontou Pinto da Costa como o “presidente dos presidentes” e algo de muito parecido lhe sairia da boca se tivesse hoje que descrever o perfil e o estatuto do técnico que se prepara para voltar ao Dragão enquanto mentor do maior rival dos últimos 40 anos.

A única diferença é que o epíteto teria de ser “replicado” com alguma… singularidade. Face ao contexto eleitoral do Benfica, na versão portuguesa o Special One tem de ser visto como “o presidente do presidente”. No caso, Rui Costa, claro. Por muito que a Administração encarnada recuse a ideia de que o resgate correspondeu a um golpe de campanha, a verdade é que o “tamanho” da contratação esmaga todo e qualquer outro assunto relacionado com a agenda das águias, para óbvio benefício de quem enfrentava crescente indignação da massa associativa.

José Mourinho e Rui Costa
José Sena Goulão

Sem colocar em causa que o primeiro objetivo da Direção foi zelar pela preservação da competência competitiva do clube, é impossível ignorar o enorme poder que foi delegado de forma automática na figura do novo treinador. Até no improvável cenário de os resultados não acompanharem a delirante onda de expectativa gerada desde que foi consumada a chicotada psicológica, ninguém desconhecerá que Rui Costa entregou o destino a JM e deu-lhe um salvo-conduto que dá acesso ilimitado a qualquer gabinete, inclusive o da presidência.

EM LUME BRANCO

Não há projetos, organogramas, centros comerciais, golos ou vitórias dentro das quatro linhas que melhor possam municiar as armas de quem pretende a reeleição. A última bala dourada de Rui Costa chama-se Mourinho, goste-se ou não do estilo e do passado daquele que foi responsável pelos mais invejáveis êxitos internacionais do FC Porto no século XXI.

Como é evidente, e a exemplo do que sucede no campo, o facto de se ter nas mãos o ás de trunfo não é sinónimo de êxito. A avaliar pelas sondagens que têm vindo a ser difundidas, João Noronha Lopes arrisca-se a ganhar a corrida às urnas marcada para 25 de outubro e nessa eventualidade pode o agora candidato confrontar-se com aquilo que neste momento não passa de uma hipotética e, no entanto, seríssima preocupação.

João Noronha Lopes

Com pompa e circunstância, Noronha Lopes apresentou Pedro Ferreira e Tomás Amaral como diretor-geral e diretor-desportivo, respetivamente, e se for eleito terá um problema grave para resolver e que se traduz na (in)definição do futuro profissional de Mário Branco. Na conferência de Imprensa que ontem fez para antever a partida com o Rio Ave, José Mourinho voltou a referir-se ao atual diretor-geral (cargo que ocupava no… Fenerbahçe há três meses) como um "amigo" que fez no futebol e será impensável que a primeira grande medida de Noronha passe pelo afastamento da pessoa de confiança de um mister que é muito mais do que isso.

Mário Branco
Tânia Paulo

O presidente do(s) presidente(s), com a carta branca que Jorge Mendes ajudou a carimbar para fazer esquecer o "timing" de alguns reforços que chegaram fora de tempo a Istambul, deixa todos a um canto. Um pouco à semelhança do que sucedeu no jogo de estreia pelo Benfica pós-Lage. Só beneficiou de um pontapé de canto e venceu na Vila das Aves por 3-0, pecúlio que logo à noite lhe permitirá uma receção apoteótica na Luz.

Curiosamente, na última vez que ali esteve, disse adeus à Champions após duelo com um único "corner" a favor. Mas era na semana em que falava apenas com um presidente, alguém que tinha os dias tão contados como os dois setubalenses que dirimiam forças nos bancos. Cada um no seu canto.

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