Um mês depois da última grande sondagem aos associados do Benfica antes das eleições marcadas para 25 de outubro, o Bayer Leverkusen apresenta-se na Luz para a quarta jornada da fase regular da Liga dos Campeões.
Sob a direção técnica de Kasper Hjulmand, o homem que foi escolhido para suceder a Erik Ten Hag mal começou a Bundesliga (não confundir com o compatriota que joga do outro lado da Segunda Circular), a equipa dos farmacêuticos surge no calendário das águias na data certa e no sítio certo.
O confronto realizar-se-á depois de duas temíveis viagens dos encarnados a Inglaterra, onde reencontrarão o campeão mundial Chelsea e depois o endinheirado Newcastle, o tal emblema que esteve prestes a contratar Pavlidis como sucessor de Alexander Isak, adquirido pelo Liverpool por 144 milhões de euros.
Na teoria, quando Alex Grimaldo regressar a “casa”, o espanhol e restantes companheiros estarão a prestar um duplo favor, evitando a deslocação à Alemanha, verdadeiro território-pesadelo. Em desafios a contar para a prova milionária, os vice-campeões portugueses nunca venceram em solo germânico e num par de ocasiões saíram de lá mais triturados do que a carne picada que serve para fazer os hambúrgueres que tanto encheram o prato da atualidade nacional.
Noutro tempo, no tempo em que agitava a bandeira do Benfica nos debates televisivos, André Ventura, nem de propósito, seria o primeiro a perceber por que motivo Lage transforma o culto à cidadania num festival de equívocos, obviamente indigesto para a opinião pública.
Partindo do reconhecimento do próprio erro quando se escandalizou com a viagem autorizada de Marcelo a Berlim, Ventura ajudaria de certeza o treinador a encontrar a diferença entre uma comunicação virada para a sociedade e aquela que lhe cabe em exclusivo enquanto líder do balneário.
Da mesma forma que em 2019 não conseguiu fazer passar a mensagem nem o apelo para deixar o Marquês limpo depois da festa de comemoração do 37 (sem falar no conteúdo político que marcou a parte final do discurso proferido há seis anos), o substituto de Roger Schmidt continua hoje em dia amarrado a uma ingenuidade atroz.
No rescaldo do encontro com o Santa Clara, longuíssimos minutos depois do frustrante empate com os açorianos, conseguiu cair na mais gratuita e bizarra declaração sobre a… declaração de Otamendi. Uma vez que o capitão tinha assumido com espontaneidade o fatídico erro do minuto 92, o técnico estava proibido de recuperar a verdade de La Palisse que resiste à maior das erosões.
Ao lembrar que a responsabilidade é sempre de quem escolhe e orienta os jogadores e que retirava a mínima dose de culpa ao defesa argentino, o que ficou é que por dentro fervilhava mesmo a intenção de entregar a cabeça do central, cuja desastrada intervenção no duelo com Vinícius Lopes dispensava quaisquer legendas ou perdões papais.
De tanto querer agradar e convencer toda a gente de que nunca vai deixar ninguém sozinho, Bruno Lage desgasta-se e perde-se num mar de contradições que lhe afoga a energia que devia canalizar só para a área profissional. Ainda ontem, na antevisão da partida desta noite com o Qarabag, sublinhou que não quer ser uma figura consensual, mas é exatamente isso que de forma constante tem perseguido desde que regressou ao Seixal.
Não se cansa de falar para os adeptos, não se cansa de lhes pedir apoio e não se cansa de lhes enaltecer o papel em algumas reconquistas. No plano eleitoral, não se cansa de avisar a oposição a Rui Costa de que se alguma vez fizer determinado tipo de comentários ao plantel, aí sim, vai interferir sem dó nem piedade, esquecido de que a multidão de candidatos à presidência tem tanto direito a pronunciar-se como… qualquer simpatizante.
E basta perder a última grande sondagem antes da ida às urnas, a realizar no Dragão por ocasião do FC Porto-Benfica de 5 de outubro, para o míster começar a fritar a suspeita de que alguém lhe pode dar um chega para lá antes sequer do Leverkusen se manifestar em Lisboa.