Desporto

Pinto da Costa ainda não parou de rir

Opinião de João Rosado. Pode ser que seja hoje, caso o FC Porto apresente finalmente o sucessor de Sérgio Conceição.
Diogo Cardoso

João Rosado

A dois meses do arranque oficial da temporada, o FC Porto ainda está à procura de treinador. Pelo menos, oficialmente. A 3 de agosto os dragões defrontam o Sporting na final da Supertaça e continuam a desconhecer o sucessor de Sérgio Conceição.

Claro que um clube que está servido por figuras como André Villas-Boas (AVB) ou Jorge Costa pode sempre dormir mais tranquilo. Em última instância, o diretor desportivo ou quem está acima dele desce até ao banco e faz as despesas da tática, partindo-se do princípio de que ninguém se incompatibilizará com ninguém.

Se é este o FC Porto do futuro, apostado em “recuperar a liderança e a reputação”, conforme se leu no primeiro editorial assinado pelo n.º1 da Direção, então Jorge Nuno Pinto da Costa não deve ter parado de rir na última semana. Sejam quais forem os motivos que estão por detrás da demora em apresentar um nome para dirigir o balneário, é incompreensível que alguém que esmagou nas urnas esteja a ser esmagado nos bastidores por uma cena de ciúmes ou algo mais indescritível.

Nesta altura, nenhum sócio portista (administradores à parte) conseguirá entender o atraso na comunicação de uma decisão há muito anunciada pela força das circunstâncias e dos acontecimentos que marcaram a campanha eleitoral. Villas-Boas, num determinado momento, equacionou a possibilidade de continuar com o técnico mais ganhador dos azuis e brancos (no âmbito do repto que lançou a Pinto da Costa ainda em 2023) e meses depois atirou essas expectativas para o lixo assim que Conceição acertou a renovação do contrato num 25 de abril que ficou para a história.

Por outro lado, ao definir o lado em que estava a 48 horas do sufrágio, Sérgio deixou explícito que queria correr todos os riscos e só iniciaria um terceiro ciclo caso o homem que estava no poder desde 1982 prolongasse o mandato até 2028. Fosse qual fosse o ângulo de análise, nenhuma espécie de dúvidas poderia persistir sobre a obrigatoriedade de escolher um novo treinador a partir do momento em que um novo líder assumisse os destinos da instituição.

Também tu, Bruno

Sem desprezo pelos objetivos desportivos que estavam no horizonte depois das eleições presidenciais e que obrigaram a um silêncio mediático para não comprometer a estabilidade emocional dos jogadores, a verdade é que nada impedia AVB de resolver internamente um assunto estruturante, de impacto enorme nos próximos anos. Com a mesma naturalidade com que apelou ao Conselho de Administração cessante para agilizar a passagem de testemunho, consciente da urgência em se identificar com dossiês de capital importância, o jovem presidente podia e devia ter acelerado a escolha técnica.

E a confirmar-se que Vítor Bruno era e é o cabeça da short list, tudo se torna duplamente intrigante. Desejoso de iniciar uma carreira a “solo”, prestes a finalizar contrato, também ele profundo conhecedor dos cantos da casa e por ora sem currículo para pedir mundos e fundos à Direção, o ex-adjunto de Sérgio Conceição preenche os requisitos como nenhum outro e beneficia do facto de nunca ter perdido um único desafio quando substituiu o antigo chefe.

Como é óbvio, este registo imaculado, latente em 13 triunfos (entre os quais um severo 3-0 ao Benfica na temporada 2021/22) e apenas um empate (1-1 nos Açores, frente ao Santa Clara, em 22/23), vale o que vale e só por si não é denunciador de todas as competências e do leque de insuficiências de Vítor Bruno. Os superdesconfiados podem alegar que o mérito dos resultados alcançados nestas 14 partidas repousam no planeamento e nas indicações transmitidas na tribuna a um “mero” colaborador, enquanto os mais crentes responderão com o argumento que assenta no rigor dos números e que não pode ser confundido com uma simples coincidência.

Aos pés de Barros

Há 18 anos, quando o FC Porto se viu subitamente (ou talvez não...) a braços com o pedido de demissão de Co Adriaanse, o diligente Rui Barros foi tido e achado como responsável máximo pelo grupo de trabalho na véspera da disputa da Supertaça e acabou por erguer o troféu em Leiria depois de um dia normal no escritório e do 3-0 carimbado ao histórico Vitória de Setúbal. Não é preciso nenhuma calculadora para achar 100 por cento de eficácia na missão cumprida por Rui Barros (um jogo, uma vitória, um troféu), embora isso pouco tenha proporcionado ao ex-juventino, depressa substituído por Jesualdo Ferreira no arranque de 2006/07.

Pinto da Costa, naquele tempo, preferiu resgatar ao rival Boavista um técnico que tinha começado a época no Bessa e trocou a rentabilidade do famoso “rato atómico” pela experiência de um catedrático que haveria de sagrar-se tricampeão na Invicta. Na ótica de Jorge Nuno, 90 minutos de glória e de contributo efetivo para o museu não bastaram para manter a aposta aos pés de Barros e muito provavelmente terá encarado a conquista da Supertaça quase como a tal coincidência que pode uniformizar um bombeiro de ocasião mas não veste um treinador.

Vítor Bruno tem 14 “coincidências” a seu favor e, capaz ou não de competir com o portismo exacerbado de Sérgio Conceição, tem o exemplo do presidente (noutras vidas, quando se emancipou de José Mourinho) e até do bicampeão Vítor Pereira, escolhido para suceder ao próprio André quando o Chelsea no verão de 2011 pagou 15 milhões para levar o “Special Two” até Londres. Em duas campanhas seguidas na Liga portuguesa, ou seja, em 68 encontros, Vítor Pereira conseguiu perder apenas um (em Barcelos, no ano do primeiro campeonato, o Gil Vicente ganhou por 3-1) e para surpresa de muita gente provou que um excelente adjunto pode estar vocacionado para outro lugar na hierarquia.

Villas-Boas, na nova versão, tem de provar que um extraordinário candidato também pode ser um extraordinário “estadista”. No primeiro mês tem uma Taça de Portugal a meias com Pinto da Costa e daqui a dois tem de lutar por uma

Supertaça que mesmo que tenha um vencedor à Rui Barros não apaga a semana que recuperou o pior para a reputação.

Últimas