Mesmo com Pepe a exibir a elogiada frescura dos 40, Sérgio Conceição não desdenharia contar com a dupla Otamendi/Mangala para a partida desta terça-feira no Estoril.
Nicolás e Eliaquim são uma espécie de engenheiros do penta. Juntos, numa aritmética livre, “somam” cinco campeonatos com o emblema do FC Porto e, no caso do capitão do Benfica, até houve direito a três conquistas seguidas.
Entre 2010/11 e 2012/13, o argentino completou a norte temporadas de sucesso e nas duas últimas, que cumpriu de fio a pavio, beneficiou da companhia do francês no eixo defensivo.
Aliás, o par só se desfez quando, em janeiro de 2014, o atleta formado no Vélez Sarsfield regressou à América do Sul para representar o Atlético Mineiro na condição de emprestado pelo Valência.
Otamendi, a troco de 12 milhões de euros, foi transferido por Pinto da Costa e, a exemplo do ex-Standard Liège, também ele acabou mais tarde por vestir dezenas de vezes a camisola do Manchester City, confirmando uma carreira de braço dado com o central atualmente às ordens de Vasco Seabra.
E o “General” teria agradecido que tudo se tivesse resumido ao braço enquanto esteve ao lado de Mangala em Portugal. Numa altura em que o VAR ainda não se tinha instalado na Cidade do Futebol, uma mão de Otamendi na bola custou uma grande penalidade e novo empate consentido pelo FC Porto na Linha.
Estávamos em setembro de 2013, Marco Silva dava ordens num banco e Paulo Fonseca noutro, soltando muitas recomendações para uma retaguarda suportada também por Danilo (por falar em antigos craques do City...) e Alex Sandro e ainda assim incapaz de evitar um 2-2 final que ilustrou as dificuldades de sempre do Dragão no António Coimbra da Mota.
Mangala, dupla bengalada
Mangala, neste contexto, tem responsabilidades a dobrar, como se não quisesse de jeito nenhum ficar atrás do antigo parceiro de setor. Basta recordar o que aconteceu no último desafio entre estas equipas e que valeu o apuramento histórico dos “canarinhos” para a final four da Allianz Cup.
Titular numa linha de três composta por Raúl Parra e Volnei, o centralão canhoto durou até aos 67 minutos e acabou por celebrar a segunda vitória consecutiva sobre os portistas, praticamente um mês depois de um golo solitário de Jordan Holsgrove ter proporcionado um saboroso triunfo na Invicta em duelo a contar para a 10.ª jornada do campeonato.
É preciso recuar até à década de 40 (!) do século XX para se encontrar um registo semelhante ou ainda mais embaraçoso para um dos gigantes do desporto nacional. Os três primeiros confrontos entre Estoril e FC Porto redundaram em derrotas para os azuis e brancos e houve inclusivamente um expressivo 8-1 a caracterizar o esmagador domínio dos pássaros do sul entre 1944 e 1948.
Neste período, em nove confrontos, o sorriso só foi da cor do equipamento quando um 2-1 datado de 1946 traduziu um desaire no velho Estádio do Lima, recinto emprestado pelo mítico Académico do Porto ao FCP.
Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa ainda nem sequer tinha completado 10 anos e obviamente ninguém pensava no seu nome para batizar um “qualquer” anfiteatro. De então para cá, pode dizer-se que tudo mudou... à exceção da teimosa e meritória tendência do Estoril para fazer o poderoso adversário naufragar na Praia.
Estoril, o terceiro “grande”
Quando logo se iniciar o jogo 70 entre os dois clubes, Sérgio Conceição estará consciente de que depois de Sporting e Benfica não há opositor mais problemático entre os atuais participantes da Liga Betclic. Conforme informação disponibilizada pelo “ZeroZero”, os dragões têm uma percentagem de vitórias diante dos leões cifrada em 36,8% (91 triunfos em 247 jogos) e de 39,7% (101/254) perante as águias, com os donos da Amoreira a completarem o pódio das hostilidades devido a 57,9% (40/69).
Os números não decretam vencedores antecipados (e a tendência seria no sentido de um triunfo forasteiro) mas, se hoje sofrer a terceira desfeita seguida ante Vasco Seabra, Conceição já sabe que a conversa vai ter de ser outra com o presidente até ao fecho da janela de transferências.
A eventual exclusão de mais um objetivo de época adensará a discussão sobre se o remediado FC Porto pode contentar-se com contratações como a de André Franco, para dar o exemplo de um futebolista recrutado a um... Estoril que neste momento se arriscaria a “entrar” no onze contrário com Rodrigo Gomes, Bernardo Vital, Rafik Guitane e quiçá Tiago Araújo. Além, claro, do “velho” Eliaquim Mangala.
Uma coisa é certa. Num cenário sem Taça de Portugal, não faltarão mensagens ao estilo daquela que as claques fizeram soar no Bessa quando Sérgio se preparava para organizar a tradicional roda.
E nas circunstâncias mais adversas, pouco importa se o dinheiro é escasso para grandes aventuras no mercado. A loucura das bancadas não resiste a contratar palhaços para jogarem à bola.