À terceira tentativa, aconteceu. O destino, até Alvalade, não quis cruzá-los cara a cara. Nos Sub-18 e nos Sub-19 da Suécia, Gyokeres marcou a Filipe Dinis e a Dani Figueira e viu sempre Diogo Costa sentado no banco de Portugal.
As duas estrelas foram poupadas a um duelo demasiado prematuro e ficaram reservadas para um frente a frente que marcou a 14.ª jornada do campeonato e que pode, no futuro, revelar-se uma outra espécie de clássico.
Isto partindo do princípio de que Viktor Gyokeres e Diogo Costa, a médio prazo, vão continuar como adversários, o que está longe de ser uma insofismável realidade, sobretudo se o Manchester United optar pela saída de Ten Hag e por um regresso em força ao mercado português enquanto espera por... Rúben Amorim.
Seria quase como respeitar letra a letra o sentido da mais icónica das frases do treinador do Sporting. Para onde for um, vão todos.
Esta “máxima”, que no contexto doméstico só fica bem nos cachecóis dos adeptos e não pode sustentar a política de contratações de ninguém, serviria, por outro lado, de profunda inspiração para o renascimento de um lendário emblema que pouco se incomoda com as despesas e que já atirou a toalha ao chão nas competições europeias.
Caído aos pés de um “gigante” chamado FC Copenhaga (Diogo Gonçalves e companhia preparam-se para defrontar o arquirrival City nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões...) e de uma constelação de reformados que vivem no luxo de Istambul, o irreconhecível United no último domingo vestiu-se de Galatasaray e tornou-se notícia ao sair de Anfield sem perder e com números de Championship (32% de posse de bola, 2 remates enquadrados, 0 pontapés de canto conquistados).
Face àquilo que tem sido a era neerlandesa em Old Trafford, é fácil imaginar Bruno Fernandes a entregar o voto de capitão a uma equipa orientada por Amorim, com Diogo (Costa) a pontificar na retaguarda e Viktor (Gyokeres) no ataque.
Rasmus de génio?
O camaronês Andre Onana, depois de ter atuado entre os postes numa final da Liga dos Campeões com o Inter de Milão, parece ser uma farsa no Teatro dos Sonhos, enquanto o dinamarquês Rasmus Hojlund continua a ter pesadelos com o primeiro golo na Premier League.
Nas aquisições do guarda-redes africano e do avançado escandinavo, os “Red Devils” gastaram qualquer coisa como 126 milhões de euros (51 na conta do Inter e 75 a transferir para a Atalanta), o que resultou num bolo financeiro muito semelhante àquele que o... Benfica de uma assentada recebeu por João Félix e depois pelo campeão do Mundo Enzo Fernández.
Em plena campanha pré-eleitoral, Pinto da Costa, mesmo a precisar até ao final do mês de um grande “milagring” ou de um engenhoso “factoring” financeiro para alcançar a meta dos capitais próprios positivos, pode sempre achar que não há dinheiro que pague a hipoteca de mais um mandato, mas no que toca a Frederico Varandas o aceno nas próximas semanas de uma fortuna descomunal ameaçaria mudar o guião de uma temporada construída para devolver os sportinguistas às celebrações no Marquês.
Até evidência em contrário, o FC Porto tem tanta legitimidade como o Arsenal para chegar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões (se o conseguir, recebe como bónus tanto como o Sporting já amealhou na Liga Europa, ou seja, 10 milhões de euros a juntar aos 63 já arrecadados) e sabe que em condições normais vai ter um guarda-redes de 24 anos como titular de uma seleção candidata ao título continental na Alemanha.
Sendo certo que a cláusula de rescisão do jovem Diogo é de “apenas” 75 milhões de euros (o administrador que a assinou não teve propriamente um... Rasmus de génio), não deixa de ser verdade que a Suécia do portentoso Viktor falhou a qualificação para o Campeonato da Europa do próximo verão, o que impede obviamente a SAD leonina de alimentar expectativas no cumprimento de uma cláusula de cem milhões de euros com base em provas dadas neste grande certame internacional.
Com ou “cem” Viktor
Varandas e Hugo Viana, dispensando ambos lições de gestão económica-desportiva, sabem muito bem que se alguém aparecer no mercado de inverno na disposição de lhes oferecer o maior jackpot da vida do Sporting, podem estar confrontados com uma oportunidade única e uma decisão histórica para a instituição.
Nessa eventualidade, do ponto de vista meramente contabilístico falham os motivos para convencer o goleador a ficar. Por um craque sem jogos na principal prova uefeira e sem Europeu no próximo ano, os leões iriam receber em apenas cinco meses... cinco vezes mais do que pagaram ao Coventry e só numa operação cobrir a verba (99,1 milhões de euros) atribuída a todo o plantel no Relatório e Contas de 2022-23 enviado em setembro último à CMVM.
O mesmo documento sublinha os 96,9 milhões de euros creditados na transação de futebolistas (comparados com os 59,3 milhões de euros do exercício anterior) e também os 222 milhões de euros que totalizam o “volume global de negócios”, com a particularidade de o clube ter feito questão de adicionar no último mês uma comunicação à entidade reguladora para destacar “em nome da transparência” o lucro obtido em 2023 e respeitante somente à balança das transferências.
De acordo com a referida adenda, as vendas desde janeiro resultaram num encaixe de 134,2 milhões de euros e as compras implicaram um gasto de 72,1 milhões de euros, o que originou o saldo positivo de 62,1 milhões de euros.
Por tudo isto, percebe-se o peso e o impacto imediato que os cem milhões de euros por Gyokeres teriam nas finanças de Alvalade.
Sim, no final da época o camisola 9 também pode sair por esse valor e talvez (nada o pode ainda garantir) com o rótulo de campeão. Da mesma forma que também é possível que os bilionários compradores estejam mais atentos a uma ou outra “novidade” da Liga dos Campeões ou do Euro’2024.
Em 2003, na inauguração do novo estádio, bastou um jogo de Cristiano Ronaldo diante do... Manchester para a mudança ser imediata. Os ingleses pagaram 15 milhões de euros e o maior goleador de sempre quase não teve tempo para fazer as malas.
Vinte anos depois, Viktor é o novo Ronaldo. Na perspetiva do Sporting, melhor até... se o United se quiser chegar à frente e pagar quase 10 vezes mais pelo avançado que finalmente marcou a Diogo.
Pudesse o canhoto Rasmus dizer o mesmo sobre qualquer um dos guarda-redes de Inglaterra...