Desporto

Pinto da Costa, 23 de abril, sempre

Opinião de João Rosado. O presidente do FC Porto sabe que 30 dias podem fazer toda a diferença.
Pinto da Costa
Reprodução/Facebook FC Porto

João Rosado

A cinco semanas de completar 86 anos, é natural que Pinto da Costa considere que já não tem idade nem paciência para percorrer o País de lés a lés em campanha, a distribuir promessas e a estabelecer compromissos pelos agentes do futebol português na tentativa de chegar à presidência da Federação. Mas nenhum programa de Inteligência Artificial (IA) desprezaria o nome do dirigente mais titulado do Mundo se a pergunta fosse assim, mais chat que chata, sobre a personalidade ideal para ocupar o lugar que Fernando Gomes no próximo ano vai deixar vago na Cidade do Futebol e que dificilmente será ambicionado por Pedro Proença face à nomeação do presidente da Liga portuguesa como presidente da Associação das Ligas Europeias.

Recordista de troféus à escala global, com mais de mil vitórias só no departamento de futebol, capaz de ombrear sozinho nas últimas quatro décadas com as conquistas coletivas dos rivais Benfica e Sporting, o presidente do FC Porto teria números mais do que suficientes para qualquer fórum GPT o sugerir à cabeça das várias possibilidades que já começaram a emergir depois do “envio” de Proença para o palco europeu.

O problema, além dos outros que sobrevivem à artificialidade estatística, é que Jorge Nuno já tem muito com que se preocupar dentro da própria casa. A começar pelo dossier relativo aos treinadores. A renovação de Sérgio Conceição está por anunciar e o... anúncio da recandidatura a mais um mandato também, sendo que André Villas-Boas (AVB) se cansou de distribuir os coletes de treino e a única táctica que lhe interessa tem a ver com a chegada por via eleitoral à mais poderosa das cadeiras de sonho.

Assim, é bem provável que Pinto da Costa (PC) aproveite a presença no Jornal da Noite desta terça-feira para desvendar em primeira mão na SIC parte substancial destes enigmas. Melhor do que ninguém, sabe que não pode dar mais tempo e mais vantagem à concorrência, deixando Villas-Boas sozinho no terreno e a preparar, sem nenhuma espécie de pressão ou adversário à altura, a ida às urnas no primeiro semestre de 2024.

A menos que surja uma sonante terceira via no universo de candidatos (mais depressa o presidente da Liga portuguesa e das Ligas europeias seria presidente da FPF...), a luta pelo poder azul e branco resumir-se-á a PC e AVB, sempre com o Pedroto da era moderna a assumir-se como o grande “Influencer” da batalha dos boletins.

Revolução, renovação, Conceição

Com a astúcia que noutros tempos revelou no banco, Villas-Boas foi o primeiro a aperceber-se disso. Consciente de que Conceição é a única referência capaz de provocar unanimidade entre os sócios que não têm livre acesso à varanda da Câmara Municipal, o rosto mais mediático da oposição não hesitou em manifestar publicamente estranheza face à demora na oferta de um contrato de maior duração ao treinador vinculado até ao final da presente temporada.

Numa jogada de antecipação, AVB lançou a pressão toda para cima de Pinto da Costa, sem esperar sequer pela Assembleia Geral do passado dia 13.

Se o FC Porto recuperar o título nacional e não conseguir preservar Sérgio, o “velho” presidente não fica bem na fotografia. Se houver um novo presidente e nas mesmas circunstâncias for impossível a renovação, quem for eleito poderá sempre dizer que a anterior gestão perdeu o “timing” da renovação.

Em cenário mais adverso, com a Liga a escapar pelo segundo ano consecutivo aos portistas, a extensão do contrato poderá ser interpretada como uma decisão no tempo errado e se pura e simplesmente... não acontecer pode ser usada como explicação maior para o fracasso.

Perante este contexto, percebe-se melhor por que motivo Sérgio Conceição foi lesto a reafirmar que não está no clube por dinheiro, mas sim pela grande ligação ao presidente, da mesma forma que se entende quão fundamental é para Pinto da Costa ir a sufrágio em abril do próximo ano.

A um mês do final da época, em quadro de normalidade, tudo estará em aberto no capítulo competitivo e dificilmente a votação sofrerá uma grande influência dos resultados dentro das quatro linhas. Caso as eleições ficassem adiadas para... junho, o risco de perda de governabilidade iria aumentar substancialmente para a atual administração e sobretudo para o homem que fez a revolução no Dragão e tomou pela primeira vez posse a 23 de abril de 1982.

Como os largos dias, o mês da Liberdade terá sempre cem anos para Pinto da Costa?...

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