A tribuna de honra do Lluís Companys promete tanto ou mais do que o jogo em si. Esta terça-feira, FC Barcelona e FC Porto defrontam-se naquela que pode ser considerada a grande final do grupo H da Liga dos Campeões, e nos camarotes de luxo do Estádio Olímpic não devem faltar nomes capazes de rivalizar com os que vão estar dentro das quatro linhas.
Em representação da equipa da casa emprestada, Joan Laporta e Deco. Do lado dos visitantes, Pinto da Costa e também Vítor Baía. No que respeita aos portistas, há evidentemente outros candidatos aos lugares de protocolo, mas seria uma pena que as objetivas dos repórteres de imagem perdessem a oportunidade de documentar o reencontro de duas figuras que marcaram a história das transferências para a Catalunha e que hoje em dia são homens da total confiança dos respetivos presidentes.
Tanto quanto se sabe e ao contrário de muitos rumores que correram no passado, o ex-guarda-redes já não tem pretensões a passar disso mesmo, de um fiel colaborador do líder da SAD, enquanto o antigo maestro do meio-campo de Mourinho tem o tempo todo ocupado na qualidade de responsável pelo recrutamento de jogadores.
Eleitos ambos por Pinto da Costa para o melhor onze de sempre do FC Porto, Deco e Baía são também as lendas de carne e osso que ajudaram o Dragão a criar um prestígio internacional que pode ser reforçado nas próximas horas com a qualificação matemática para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões (“basta” derrotar Xavi Hernández) e que não se coaduna com os acontecimentos recentes na instituição e na cidade.
Um clube que só fica atrás de... FC Barcelona e Real Madrid no que respeita a presenças na principal prova da UEFA (26 contra 27 dos espanhóis, conforme Sérgio Conceição relembrou na sala de Imprensa de Montjuic) não deve fazer manchetes à conta das agressões e do clima de hostilidade que marcaram a Assembleia Geral de 13 de novembro.
Um clube que tem o presidente mais titulado do Mundo não deve ficar em silêncio quando um ex-treinador e candidato à presidência é obrigado a levar seguranças para o estádio e a sua casa é vandalizada e um funcionário, agredido e roubado.
Um clube que tem o mesmo presidente há quatro décadas não deve permitir que a principal claque se antecipe à própria administração e, face os acontecimentos ocorridos junto à residência de André Villas-Boas, peça ao Ministério Público a abertura imediata de “um inquérito que apure as responsabilidades e as deixe claras e visíveis a todos”.
Um clube que “começa” o mês como o quarto melhor clube do Mundo na tabela da Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol não deve terminá-lo a recear que a Assembleia Geral de quarta-feira (dia 29) volte a originar confrontos físicos entre sócios.
Um clube que tem um treinador que foi considerado pela plataforma TransferRoom o nono melhor do Mundo não deve (e logo na véspera de um duelo decisivo em Barcelona) ser obrigado a explicar o que Sérgio Conceição quis dizer quando se referiu ao “adormecimento” de João Mário e às diferenças que o defesa-direito experimenta no Olival em comparação com o trabalho sob a orientação do “treinador espanhol” da seleção.
FUSSBALL FALHANÇO
Inspirado no lema do monumental adversário “blaugrana”, o FC Porto, na quinta jornada da Liga dos Campeões e no futuro com ou sem Pinto da Costa, tem de ser muito mais que este clube, para seu benefício e para proveito do futebol português. Convém recordar que, quando arrancou esta fase de grupos da Liga dos Campeões, mais de metade (52,92%) dos pontos de Portugal no ranking da UEFA calculado com base nas prestações dos últimos cinco anos foram fornecidos por Benfica (28,10%) e FC Porto (24,81%), o que ilustra a dependência mas também a responsabilidade acrescida de águias e dragões na salvaguarda da reputação nacional.
Por falar nisso, na defesa da imagem e em fatores reputacionais, na sua “final” de quarta-feira com o Inter de Milão, o Benfica precisa de... começar a fazer pontos no Grupo D, independentemente de Rui Costa, em declarações ao jornal “Record”, já ter assumido o “falhanço” do “fussball” de Roger Schmidt na Champions. Se não fizerem um resultado melhor ou igual àquele que o Salzburgo alcançar diante da Real Sociedad, os encarnados ficam imediatamente fora da Liga da Europa e arriscam-se a igualar a campanha de 2017/18, a pior de sempre de uma equipa portuguesa devido às seis derrotas e ao golo solitário de Seferovic.
Se isso (voltar a) acontecer, ao menos Schmidt ficará dispensado de grandes traduções e poupar-se-á a deselegâncias do género da que protagonizou na conferência de Imprensa pós-dérbi. O técnico alemão, na ocasião, interrogado se o resultado tinha sido melhor do que a exibição, acusou o jornalista de ser adepto “do Sporting ou do FC Porto” e, ato imediato, levantou-se da cadeira.
Na eventualidade de sair de cena europeia, pode ficar descansado que ninguém voltará a perguntar-lhe isso.
P.S.: A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto enviou para o Ministério Público “informação que se afigure útil para a prossecução da justiça” no âmbito do caso do videógrafo do Sporting que terá sido agredido por adeptos do próprio clube no decorrer do desafio com o Dumiense.
As tribunas da desonra prometem um dia acabar com o jogo.