O Palmeiras escreveu na madrugada desta quinta-feira um dos grandes capítulos da história do clube. O empate contra o Cruzeiro garantiu o bicampeonato da equipa de Abel Ferreira. O treinador português, que soma nove títulos em pouco mais de três anos no Brasil, pode estar de saída, mas deixa um legado no futebol canarinho.
Rodrigo Coutinho, jornalista brasileiro do Globo Esporte e da Sportv, falou à SIC sobre a época do Palmeiras e a importância de Abel Ferreira, “o maior treinador da história do Palmeiras”.
“Ele é o maior treinador da história do Palmeiras. Chega ao nono título. Fica a um do maior campeão, atrás apenas do Oswaldo. Mas em relevância [dos títlos], ele está acima. Fora a identidade de jogo da equipa, organização do departamento de futebol, que passa muito pelo Abel. Ele faz um dos maiores trabalhos de um treinador no Brasil", diz Rodrigo Coutinho, comparando-o apenas a Telê Santana, que treinou o São Paulo nos anos 90 e liderou a seleção brasileira no Mundial de 1982.
Abel chegou ao clube em outubro de 2020 e, hoje, ainda lidera muitos dos jogadores com que começou a escrever a história no Brasil. Esta manutenção poderá ser uma das chaves do sucesso. “Há uma boa sintonia e os jogadores entendem perfeitamente o que o treinador pede”.
No entanto, o português tem hoje um jogador que poucos tem o luxo de treinar. Chama-se Endrick, marcou frente ao Cruzeiro, nesta última jornada, e é um dos maiores talentos do futebol mundial. O avançado, já vendido ao Real Madrid, foi um dos destaques desta época.
“O Endrick foi o melhor jogador desta reta final. O melhor do Palmeiras nas últimas 10 rodadas. Foi fundamental no jogo mais emblemático deste titulo, contra o Botafogo [então líder do campeonato]. Num time que não tem um protagonista, pois este é o treinador, ele foi o jogador com maior destaque”.
Rodrigo Coutinho cita ainda outras alterações da equipa que ajudaram a equipa a evoluir ao longo da temporada.
“Ele fez algumas modificações depois da eliminação da Libertadores. Passou a jogar no 3-4-1-2 com a bola, utilizando Endrick e Lopes como dupla de avançados E defendendo com três numa linha de cinco. Efetivou Richard Rios como titular”.
E o futuro?
Abel diz que é “grato” ao Palmeiras, mas deixa no ar a possibilidade de sair - a imprensa fala numa proposta milionária da Arábia Saudita. Os jogadores também não conseguem confirmar a permanência do treinador.
A relação de Abel com o futebol brasileiro é de amor e ódio, ao ponto do técnico não esconder, numa expressão tão característica do português do Brasil, que está “de saco cheio” de alguns problemas, como o calendário e a pressão da imprensa. “É desgastante”, admite o técnico.
“Nas últimas especulações, ele rapidamente disse que ficaria no Palmeiras. Agora tem sido um pouco misterioso (…) Acho que ele vai embora. Pelas respostas que deu, acho pouco provável que fique. No Brasil é muito estressante ser treinador e trabalhar no futebol. Ainda estamos um pouco atrasados em organização de calendário e da liga. Há muito para melhorar e isso vai cansando os profissionais com o tempo”, diz o jornalista.
Nem tudo são rosas
Abel Ferreira tem um palmarés quase inigualável no Brasil, principalmente pelo tempo em que o construiu. Deixa também um legado, além dos títulos, que é “conseguir fazer com que os jogadores mantenham-se motivado”, após tantas conquistas.
No entanto, Abel já foi muitas vezes criticado pela “arrogância” em conferências de imprensa, reagindo de forma “desproporcional” às perguntas dos jornalistas. Uma personalidade explosiva que reflete-se no relvado. O antigo treinador do SC Braga e do PAOK é recordista em cartões amarelos e vermelhos.
“Deixou muito a desejar neste aspecto. Teve muitas vezes uma visão euro-centrista, como se diz no Brasil (…) Não digo que é a intenção dele, mas ele transparece isso. Fala como quem quer ensinar o tempo inteiro e mostra arrogância para responder a perguntas normais, com reações fora do tom. É o pior ponto dele”, frisou Rodrigo Coutinho, realçando que Abel poderia melhor nesse sentido, até para evitar tantas suspensões por cartões.