O programa Código 10, do canal televisivo espanhol Telecinco, revelou as declarações prestadas por Jenni Hermoso em tribunal no passado dia 5 de setembro, na sequência do polémico caso que envolveu Luis Rubiales, antigo presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).
A atleta deslocou-se a tribunal no mês passado para denunciar os atos por si sofridos durante os festejos da conquista do Mundial de futebol, que decorreu na Austrália e na Nova Zelândia e para explicar todos os momentos que se seguiram.
"A primeira coisa que lhe digo [a Rubiales] quando o abraço é ‘que confusão que fizemos’. Ele salta para cima de mim, eu mantenho-me firme para nos apoiar. Quando desce, diz-me que ganhámos este Campeonato do Mundo graças a mim. A seguir, lembro-me das mãos dele na minha cabeça e não me lembro de ouvir mais nada", explica Jenni Hermoso, citada pelo El País, durante o seu depoimento na sede da Procuradoria-Geral da República, em Espanha.
“Em nenhum momento foi consensual”
A atleta prossegue dizendo: "Em nenhum momento foi consensual. Senti-me desrespeitada, não fui respeitada nem como jogadora nem como pessoa. Estava a viver algo histórico e pensei que uma coisa destas teria consequências. Não fiz nada para me encontrar nesta situação".
A futebolista declara ainda que "não esperava" o que aconteceu após o derradeiro encontro do Mundial e reitera que "não procurou esse momento nem fez nada para que acontecesse".
Depois de as jogadoras espanholas terem abandonado o recinto desportivo onde decorreu a final frente a Inglaterra, Hermoso foi abordada pela diretora do futebol espanhol Ana Álvarez e pela assessora de imprensa Patricia Pérez que lhe mostraram um comunicado já redigido que apenas necessitava da sua aprovação:
"Ela [Patrícia Pérez] mostrou-me um texto, sobre o qual eu não disse uma palavra. E eu disse: ‘Mas porque é que eu tenho de fazer isto?’ Temos de fazer alguma coisa, temos de parar com isto. E eu disse: ‘Então faz o que quiseres fazer’. Mas não disse nem escrevi uma palavra do comunicado. Mais uma vez, estava a sentir que era obrigado a fazer alguma coisa".
Essa foi a nota envida pela Federação Espanhola aos meios de comunicação, que explicava que o beijo tinha sido consentido e num contexto de euforia. Uma versão que contradizia a atleta que continuou a ser pressionada.
“Eu sou uma pessoa muito boa”, disse Rubiales a Hermoso
Já no aeroporto, de regresso a Espanha, Rubiales foi falar com Hermoso para que esta o ajudasse relativamente à polémica que se adensava cada vez mais.
"Eu sou uma pessoa muito boa e tu também és uma pessoa muito boa, e se ajudares uma pessoa boa...", disse-lhe o ex-presidente da RFEF, segundo a futebolista, que explica ainda:
"Eu estava a ficar muito nervosa, não precisava de aparecer em nenhum vídeo. Ele estava a dizer-me: 'Tens de me ajudar, e fá-lo pelas minhas duas filhas que estão a chorar no avião'. Ele estava a pedir-me para o ajudar a resolver um ato que ele provocou. Eu não sentia que tinha de ajudar ninguém".
Vinca ainda que depois dessa abordagem Rubiales não voltou a contactá-la. Todavia, a pressão chegou através de outras pessoas. O então selecionador Jorge Vilda contactou o irmão, a prima e o namorado de Hermoso, segundo a própria.
"Deixaram escapar ao meu irmão que, se eu o ajudasse, me sairia bem", afirma.
Vilda e Rubiales abandonaram os respetivos cargos
O comportamento de Rubiales valeu-lhe a abertura de processos disciplinares pelo Tribunal Administrativo do Desporto de Espanha e por parte da FIFA, que o suspendeu do cargo durante 90 dias, antes de o próprio se demitir.
A jogadora apresentou, por seu turno, uma queixa na justiça por agressão sexual de Rubiales, que inicialmente recusou abandonar, mas que acabou por se demitir do cargo.
Além da saída de Rubiales, a federação demitiu o treinador da seleção feminina, Jorge Vilda, e substituiu-o por Montsé Tomé, que era a 'número dois' do selecionado