Desporto

"Proteger-me de quê?": Jenni Hermoso acusa seleção espanhola de dividir e manipular atletas

Montse Tomé, a nova treinadora da “La Roja”, não convocou Hermoso para os próximos encontros porque a Federação Espanhola quer protegê-la "da melhor forma". No entanto, a jogadora questiona, nas redes sociais, esta decisão e lança farpas à seleção.

John Cowpland

SIC Notícias

Jenni Hermoso, atleta que tem estado no centro da polémica que também envolve Luis Rubiales, ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), questionou a decisão de ter sido deixada de fora da primeira convocatória da nova selecionadora da "La Roja", Montse Tomé. Convocatória essa que foi rejeitada pelas jogadoras da seleção espanhola.

A convocatória da selecionadora feminina de futebol, divulgada esta segunda-feira, incluiu 15 das campeãs do mundo, após 21 das 23 terem renunciado na sequência do polémico beijo, após a final do Mundial na Nova Zelândia.

"Proteger-me de quê? Ou de quem?"

Montse Tomé explicou que Jenni Hermoso não foi incluída neste lote de atletas porque a Federação Espanhola quis protegê-la "da melhor forma". No entanto, a jogadora questiona, nas redes sociais, esta decisão:

"Gostaria de deixar uma coisa bem clara, tentaram argumentar que o ambiente seria inseguro para as minhas companheiras de equipa, quando na mesma conferência de imprensa foi anunciado que não me chamam para me proteger. Proteger-me de quê? Ou de quem?"

Assim sendo, a jogadora, que conta com 69 internacionalizações por Espanha, vai falhar os encontros para a Liga das Nações contra a Suécia e a Suíça, marcados para esta e para a próxima semana, respetivamente.

A jogadora acrescenta ainda que apoia as restantes companheiras "que foram surpreendidas e forçadas a reagir perante outra situação lamentável".

"As jogadoras têm muita clareza de que se trata de mais uma estratégia de divisão e manipulação para nos intimidar e ameaçar com repercussões jurídicas e sanções económicas. Outra prova indiscutível que demonstra que nada mudou ao dia de hoje e que confirma a razão por que estamos a lutar e da forma que o estamos a fazer", pode ler-se no comunicado por sido partilhado nas redes sociais.

Internacionais voltaram a dar nega à seleção

As 15 atletas que se sagraram campeãs do mundo e que voltaram a ser chamadas à seleção reiteram que não se irão apresentar esta semana.

As jogadoras sublinham que o seu comunicado anterior "deixou isso claro e sem nenhuma opção para outra interpretação", declinando assim a chamada de Montse Tomé para os jogos da Liga das Nações, já que "as afirmações continuam plenamente vigentes".

Acrescentam que "nos dias posteriores a este comunicado" querem "deixar em conhecimento público que não foi transmitido nada diferente a ninguém integrante da RFEF", a federação espanhola de futebol, pelo que pedem "expressamente que a informação que se transmita publicamente seja rigorosa".

"Nós, como jogadoras profissionais de elite e depois de tudo o que aconteceu hoje, estudaremos possíveis consequências legais a que nos expõe a RFEF, ao nos pôr numa lista que pedíramos não integrar, por razões já explicadas e com mais detalhes", prossegue o comunicado.

O que pode acontecer caso as jogadoras não se apresentem?

A verdade é que se as jogadoras não se apresentarem estarão a cometer uma infração considerada muito grave, segundo a lei do desporto de Espanha, e podem ter de pagar multas entre os 3.000 e os 30.000 euros. Para além disso, podem ainda perder as suas licenças federativas, o que poderia afastá-las da competição por um período de dois a cinco anos.

O grupo de jogadoras está também a analisar o facto de a RFEF não ter notificado a UEFA, nem os clubes onde atuam com, pelo menos, 15 dias de antecedência, algo que é norma.

De acordo com o comunicado divulgados pelas internacionais, a convocatória de Montse Tomé "não se realizou em tempo e segundo o artigo 3.2 do Anexo I do Regulamento do Estatuto e Transferência de Jogadores da FIFA" e, por isso, acreditam que a RFEF "não está em posição" de exigir-lhes que cumpram a ordem.

Governo espanhol promete agir

Dada a veemência com que as jogadoras continuam a recusar a seleção espanhola, o Governo viu-se obrigado a intervir. O Executivo do país vizinho já fez saber que irá aplicar sanções caso as atletas falhem o estágio.

"Se não se apresentarem, o Governo fará o que tem a fazer, que é aplicar a lei, infelizmente para mim", declarou o secretário de Estado do Desporto espanhol, Victor Francos, à rádio Cadena Ser, citado pelo El Mundo, anunciando que iria contactar as jogadoras nesta terça-feira para "tentar resolver" o problema.

Assim sendo, o jogo entre a Suécia e Espanha, agendado para sexta-feira às 17:30, está em risco.

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