Desporto

Campeãs espanholas denunciam "discriminação sistemática"

Putellas, eleita duas vezes melhor jogadora do mundo, disse que o que aconteceu na final do Mundial foi “uma situação inaceitável”, mas realça que existe há muitos anos uma “discriminação sistemática”.

Treino da Espanha. As campeãs do mundo estão de volta
TT NEWS AGENCY

Daniel Pascoal

Lusa

A seleção espanhola está de volta após a conquista do Mundial feminino. Depois de toda a polémica iniciada com o beijo de Luis Rubiales à Jenni Hermoso, quase todas as jogadoras estão disponíveis para os jogos com Suécia e Suíça, graças a um acordo com a Federação e o Governo.

Em conferência de imprensa, antes das partidas para a Liga das Nações, Alexia Putellas e Irene Paredes falaram sobre a discriminação, o processo vivido nas últimas semanas e as razões para terem aceitado ficar.

Putellas, melhor futebolista do mundo em 2021 e 2022, disse que o que aconteceu na final do Mundial foi “uma situação inaceitável”, mas que as jogadoras sofrem há muitos anos uma “discriminação sistemática” por parte da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).

Tivemos de lutar muito para ser ouvidas e isso implica um desgaste que não queremos ter, porque aquilo que nos preocupa é ganhar. Mas aquilo que aconteceu na final e na posterior assembleia [da RFEF] foi a gota que fez transbordar o copo e dissemos que não podia ser, que não podíamos continuar naquele caminho. Perante aquela situação, tínhamos de dizer tolerância zero, pela Jenni [Hermoso], por nós, e marcar um precedente".

Acordos podem “melhorar a sociedade”

Putellas era uma das 15 campeãs do mundo que tinham pedido para não serem convocadas enquanto não houvesse mudanças na federação espanhola de futebol feminino. No entanto, após uma série de acordos, a maioria decidiu ficar - ainda assim, duas atletas abandonaram o estágio.

"Confio que os acordos a que chegamos depois de muitas horas vão melhor o nosso desporto e a nossa sociedade", frisou Putellas.

O presidente do Conselho Superior do Desporto (CSD) de Espanha, uma organismo tutelado pelo Governo, serviu de mediador entre as futebolistas e a federação, resultando num compromisso da RFEF de responder às reivindicações das campeãs do mundo.

"Não queríamos vir, tínhamos decidido que não podíamos vir, que não era o momento. Fomos obrigadas, viemos chateadas, mas viemos e aceitámos ter reuniões. A reunião foi construtiva, chegaram-se a acordos e acreditamos que são importantes para avançar e a partir de aqui sabemos que há coisas que levam um tempo", disse Alexia Putellas.

A futebolista explicou ainda que decidiram manter-se na seleção por causa da equipa sub-23, que seria chamada para as substituir, deixando jogadoras mais jovens numa situação difícil.

"A única coisa que queremos é jogar futebol em condições dignas e ser respeitadas. Até agora isso não foi possível e depois da final [do mundial], impossível", disse por seu turno Irene Paredes, que deu a conferência de imprensa em conjunto com Alexia Putellas.

“A luz ao fim do túnel ainda não se vê”

Já Irene Paredes sublinhou que há coisas que estão já a cumprir-se e a melhorar, "mas a luz ao final do túnel ainda não se vê, isto é muito demorado".

"Somos conscientes de que temos um altifalante para poder fazê-lo e muita gente atrás, companheiras de outras seleções e desportos e mulheres que estão a viver casos similares e queremos que isto possa ser um ponto de inflexão, para se olharem, levantar a voz e erradicar estas situações", acrescentou.

As duas jogadoras deram a conferência de imprensa depois de a nova selecionadora feminina de Espanha, Montsé Tomé, ter falado aos jornalistas sozinha na sala de imprensa.

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