Artur Soares Dias foi mais uma vez escolhido para dirigir o encontro entre dois dos chamados grandes do futebol português. De acordo com informações disponibilizadas online pelo próprio, esta será então a 25ª vez que o fará na carreira, superando o registo de colegas na história da arbitragem nacional.
São números impressionantes e que atestam, para lá de qualquer dúvida, a confiança sucessiva que o árbitro português tem merecido por parte da sua estrutura.
Há um dado indesmentível, que convém sublinhar: Soares Dias é muito bom árbitro. É competente, personalizado e tem todas as características que se exige no futebol moderno: presença e imagem credíveis, condição física apurada, lucidez e qualidade no processo de decisão. Não é infalível, nenhum é. É "apenas" muito bom.
Não tomem como boas as minhas palavras: analisem as suas classificações internas nas últimas épocas e reparem que é, há muito, o único português no grupo de elite da UEFA, marcando presença em jogos da liga dos campeões e em provas europeias e mundiais de clubes/seleções.
Relativamente à sua competência técnica e integridade (essa atesto eu)... tudo dito.
Tema diferente é a discussão sobre a oportunidade da nomeação e com essa discordo. Que fique claro que esta é uma posição pessoal, que carece de conhecimento técnico (só quem nomeia sabe o que faz e em que condições o faz) e que se baseia apenas na perceção. No que se vê, sente e ouve cá fora.
Soares Dias não parece "protegido" nesta escolha. Quando arbitramos muitas vezes as mesmas equipas durante muitas épocas, ficamos desgastados na imagem. Criamos erosão natural junto de clubes, imprensa e opinião pública, porque todos recordarão sempre o erro A no jogo B ou o erro C no jogo D.
Isso aumenta o ruído pré-jogo - o tóxico, de desconfiança e suspeita constantes -, não facilitando a preparação e foco de quem tem que dar o máximo em campo. De quem tem a tarefa mais desgastante de todas.
A verdade é que designar sistematicamente o mesmo (ou os mesmos) para este tipo de jogos, passa aos outros uma espécie de atestado de incompetência.
É como se lhes dissessem: "Vocês também são de primeira categoria, são internacionais, estão tecnicamente preparados e podiam ser nomeados... mas não são".
Essa mensagem não é positiva, porque desilude. Na hora da verdade, todos sabem de antemão que o brinde ficará nas mãos dos mesmos e a fava nas dos outros.
Não se motivam muitas pessoas dando bombons apenas a algumas.
Diz-se que para os melhores jogos devem ir os melhores árbitros. A regra faz sentido mas tem exceções e é subjetiva, porque os melhores podem ser vários ao longo da época: depende do estado de forma, da fase pessoal, da condição psicológica, emocional, enfim, de tudo um pouco.
Na minha opinião, um jogo com estas caraterísticas - na reta final do campeonato, entre rivais desportivos (não confundir com inimigos), que estão separados por 10 pontos - justificava-se a aposta num árbitro diferente, não pela competência de Soares Dias, mas pela oportunidade que lhe daria para crescer em experiência e motivação.
Se não for pela via da competição, não será seguramente a ver vídeos em sala que todos os outros se tornarão mais aptos ou preparados.
Perdeu-se uma excelente oportunidade para "lançar", sem medos, alguém qualificado e capaz de agarrar uma oportunidade destas.
Assim parecemos condenados a ter sempre o mesmo (ou os mesmos dois) a arbitragem derbys e clássicos, não os defendendo dos diabólicos pós-jogo e, como Pilates, lavando as mãos de qualquer responsabilidade caso algo corra menos bem.
Respeito mas não concordo.
Dito isto, vamos ao mais importante: que Soares Dias (e toda a sua equipa) faça o que faz tão bem e que conte com o profissionalismo, respeito e educação de todos os intervenientes. Sem isso, não há santo que resista.