Por vezes, diz a sabedoria popular, menos é mais… Na cinefilia, por exemplo: uma curta-metragem pode ajudar-nos a compreender melhor o trabalho desenvolvido por um determinado cineasta nos seus filmes de maior duração. Eis um exemplo a que podemos aceder através do streaming: "Escola de Carteiros", uma curta de 1947 assinada por Jacques Tati (1907-1982) que, para todos os efeitos, é o seu primeiro título como realizador.
Como todos os cinéfilos sabem, Tati estreou-se na longa-metragem com "Há Festa na Aldeia" (1949). Com um misto de realismo irónico e delírio burlesco, aí descobríamos a pacatez da vida rural, tendo como personagem nuclear um carteiro, interpretado pelo próprio Tati, especialmente ágil e veloz através do seu meio de transporte "futurista": a bicicleta!
Pois bem, essa personagem foi criada para "Escola de Carteiros". E o título é para ser tomado à letra: começamos por descobrir Tati a aprender, com os sus colegas, as artes de transporte e distribuição do correio, para depois o vermos a circular velozmente pelos caminhos rurais, garantindo que cada um recebe a sua correspondência sem atrasos excessivos… O que, convenhamos, não é possível sem algumas atribulações mais ou menos espectaculares…
O contagiante humor de "Escola de Carteiros" tem as suas raízes em alguns registos da comédia do cinema mudo (a evocação de Charlie Chaplin será inevitável), sobretudo pelo modo como Tati sabe criar situações bizarras em que até mesmo o absurdo mais radical nasce de desconcertantes formas de naturalidade.
Começava, assim, uma obra admirável que inclui títulos lendários como "O Meu Tio" (1958) ou "Playtime - Vida Moderna" (1967), em muitos aspectos uma referência tutelar para os cineastas na "Nouvelle Vague" [veja-se um resumo da sua filmografia proposto pelo video aqui em baixo] — na sua brevidade (17 minutos), "Escola de Carteiros" é um pequeno monumento cinematográfico.
Filmin