De todos os nomes grandes da literatura do século XX, o inglês Graham Greene (1904-1991) é, seguramente, um dos que tem uma presença mais significativa no cinema. Bastará recordar o clássico "O Terceiro Homem" (1949), de Carol Reed, com Orson Welles, tendo por base um argumento do próprio escritor, ou ainda as duas versões de "O Americano Tranquilo" (1958 e 2002), realizadas, respectivamente, por Joseph L. Mankiewicz e Philip Noyce.
O romance "O Fim da Aventura" (disponível no mercado português numa notável tradução de Jorge de Sena, ed. Dom Quixote) foi também duas vezes transposto para o grande ecrã: em 1955, com Deborah Kerr e Van Johnson sob a direcção de Edward Dmytryk; em 1999, por Neil Jordan, com o par central interpretado por Julianne Moore e Ralph Fiennes — agora, esta versão mais recente pode ser vista ou revista em streaming.
Em termos simples, "O Fim da Aventura" é o retrato íntimo da paixão de Maurice e Sarah (Finnes e Moore) e do triângulo completado por Henry (Stephen Rea), marido de Sarah. Num ziuguezague temporal pontuado pela violência da Segunda Guerra Mundial, a "aventura" (ou o "affair", de acordo com o título original) de Maurice e Sarah cruza-se com a questão da demanda de Deus e da sua presença, ou ausência, no mundo vulnerável dos seres humanos.
Num registo de delicada proximidade com os actores — Julianne Moore foi nomeada para o Óscar de melhor actriz —, Jordan consegue um dos seus filmes mais brilhantes, cinco anos após o enorme sucesso de "Entrevista com o Vampiro". Para a sofisticação narrativa de "O Fim da Aventura", será importante não esquecer a direcção de fotografia de Roger Pratt (também nomeado para um Óscar) e a banda sonora original, composta por Michael Nyman.