Quase a completar 30 anos — esteve presente no Festival de Cannes de 1994 —, o filme "Viver" é uma referência central na filmografia do veterano realizador chinês Zhang Yimou (nascido em Shaanxi, em 1951), nome emblemático da chamada "Quinta Geração", isto é, o colectivo de cineastas que se afirmou ao longo da década de 80.
Agora disponível em streaming, baseado num romance de Yu Hua, publicado em 1993, "Viver" é um exemplo brilhante da sofisticação narrativa de Zhang Yimou. Acima de tudo, ele mostra-se capaz de combinar as regras clássicas do melodrama familiar com o fôlego dos grandes frescos históricos.
"Viver" centra-se, assim, num casal, Fugui e Jiazhen — interpretados, respectivamente por You Ge e Gong Li (musa de vários títulos de Zhang Yimou) — que, logo após perderem a sua fortuna devido a dívidas de jogo contraídas pelo marido, são confrontados com um desafio brutal: nada mais nada menos que a sobrevivência da sua família numa conjuntura marcada pelo conflito militar com o Japão e, depois, a Segunda Guerra Mundial.
Através de um elaborado tratamento dos ambientes daquela época, "Viver" é uma saga de muitas emoções, evoluindo através das convulsões sociais e políticas que acabam por desembocar na Revolução Cultural maoísta. Zhang Yimou consegue apresentar-nos esse panorama atribulado sem nunca desvalorizar as componentes específicas que definem cada uma das suas personagens — o que, naturalmente, é inseparável do notável trabalho dos actores.
Em Cannes, o filme concorreu no ano em que a Palma de Ouro foi arrebatada por "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino. O júri, presidido por Clint Eastwood, atribuíu duas distinções a "Viver": Grande Prémio ("ex-aequo" com "Sol Enganador", de Nikita Mikhalkov) e melhor intérprete masculino, para You Ge.
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