Cultura

Memória de Frederic Forrest

De "Apocalypse Now" a "O Caminho do Poder", foi quase sempre um secundário, tão talentoso quanto discreto — faleceu no dia 23 de junho, aos 86 anos.

Frederic Forrest em "Apocalpyse Now" (1979): um actor para sempre ligado ao cinema de Francis Ford Coppola
DR

João Lopes

A notícia não mobilizou muitas atenções mediáticas. Seja como for, com a morte do actor Frederic Forrest — no dia 23 de junho, em Santa Monica, California, contava 86 anos — desapareceu uma daquelas figuras capazes de simbolizar o melhor do cinema americano das décadas de 1970/80 [obituário: “The Hollywood Reporter”]. Bastará recordar a sua composição de Jay Hicks (de alcunha “Chef”) em “Apocalypse Now” (1979), de Francis Ford Coppola.

A carreira de Forrest é mesmo indissociável do trabalho de Coppola, uma vez que surgiu em mais três dos seus filmes: “O Vigilante” (1974), “Do Fundo do Coração” (1982) e “Tucker - Um Homem e o seu Sonho” (1988). Fê-lo sempre como talentoso secundário. Ironicamente, o seu nome surge como actor principal numa outra produção de Coppola, “Hammett, Detective Privado” (1982); trata-se de um belo policial, inspirado na figura do escritor Dashiell Hammett, com direcção de Wim Wenders — infelizmente, os desentendimentos entre Coppola e Wenders contribuíram para uma sistemática desvalorização do filme, hoje em dia quase invisível.

O filme que deu maior projecção ao seu nome terá sido “A Rosa” (1979), de Mark Rydell, retrato trágico de uma cantora rock interpretada por Bette Midler — Forrest era mais uma vez secundário, tendo obtido a sua única nomeação para um Óscar (de actor secundário, precisamente). Vimo-lo também, por exemplo, no “western” “Duelo no Missouri” (1976), de Arthur Penn, com Marlon Brando e Jack Nicholson, “O Enigma da Caixa de Música” (1989), de Costa-Gavras, “O Caso da Mulher Infiel” (1990), com Jack Nicholson como protagonista e realizador, “Crimes Invisíveis” (1997), de Wim Wenders, ou “O Caminho do Poder” (2006), de Steven Zaillian.

Com uma subtileza e diversidade de representação que não seriam estranhas à sua formação teatral, Forrest talvez seja um daqueles actores que recordamos menos pela aura de estrela (que, em boa verdade, nunca foi) e mais pelas singularidades das suas personagens. Esse “anonimato” era, afinal, a prova de um genuíno talento.

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