Mais conhecidos pelos seus dramas com conotações mais ou menos policiais — lembremos "Fargo" (1996) e "Este País Não É para Velhos" (2007) — Joel e Ethan Coen são também especialistas na área da comédia, por vezes explorando até ao absurdo as suas potencialidades. Um bom exemplo poderá ser um título que foi pouco visto nas salas, agora já disponível em streaming: "Salve, César!", produção de 2016 em que deparamos com um elenco de luxo que integra, entre outros, George Clooney, Josh Brolin, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson e Tilda Swinton.
O título (uma saudação ao imperador romano) poderá fazer pensar que se trata de um épico do tempo de Cristo… Assim é, mas só até certo ponto: a história passa-se, de facto, em 1951, num estúdio de Hollywood onde está a ser rodado, precisamente, um filme desse género tão popular junto das plateias das décadas de 50/60 — lembremos o exemplo de "A Túnica", a primeira produção rodada em forma CinemaScope.
Aquilo que os irmãos Coen conseguem, num misto de elegância e sarcasmo, é um subtil retrato da situação do cinema dos EUA numa época em que a procura de novas vertentes de espectáculo estava cada vez mais marcada pela concorrência da televisão. Ao mesmo tempo, "Salve, César!" revela-se implacável na desmontagem dos jogos de bastidores, uns apenas motivados por rivalidades "artísticas", outros contaminados por negócios nem sempre muito transparentes…
Enfim, este é mais um caso brilhante da capacidade de Hollywood observar as suas próprias contradições, desta vez através de um irresistível toque de humor. Mais do que isso, encontramos aqui uma perspectiva que, embora tingida de amargura, reflecte uma genuína admiração por uma época em que os géneros clássicos existiam ainda em todo o seu fulgor — observe-se a personagem de Scarlett Johansson e o seu envolvimento na produção de um filme musical…