Chegam esta semana às salas de cinema os dois novos filmes de João Canijo: "Mal Viver" e "Viver Mal". Trata-se de um projecto "duplo", se assim se pode dizer, com a acção situada num mesmo hotel, algures na costa norte de Portugal — no primeiro, conhecemos os meandros da família proprietária do hotel; no segundo, são os respectivos hóspedes que se transformam em personagens principais. No elenco, encontramos, entre outros, nomes como Anabela Moreira, Rita Blanco, Cleia Almeida, Beatriz Batarda e Nuno Lopes.
São intérpretes frequentes na obra de Canijo, tendo todos eles participado num dos títulos centrais da sua filmografia: "Sangue do Meu Sangue" (produção de 2011 cujo trailer se recorda aqui em baixo). Pois bem, "Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor", já disponível em streaming, é um documento sobre a preparação de "Sangue do Meu Sangue".
Porque é que Canijo registou tal documentário? Porque, num certo sentido, a sua dinâmica integra o próprio trabalho de preparação. Não se trata apenas de fazer uma espécie de "reportagem" de bastidores, mas de seguir o peculiar percurso de cada actor ou actriz à procura da sua personagem…
Vemos, assim, os intérpretes a tentar explicar para a câmara as especificidades do seu trabalho, depois a dialogar entre si sobre os prós e contras dos ensaios, enfim, ensaiando realmente, procurando encontrar o tom, o ritmo, a respiração dramática de cada momento. Nesta perspectiva, "Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor" é mais do que um tradicional "making of": o seu objectivo central é descobrir, expor e discutir os mecanismos de uma determinada ficção — do esboço das personagens à organização de uma narrativa.