O nome de Aaron Sorkin não será imediatamente identificável por muitos espectadores, mas é um facto que esses mesmos espectadores o conhecem indirectamente. Para nos ficarmos pelos títulos mais célebres do seu labor de argumentista, recordemos que, além de estar ligado a uma série televisiva tão popular como “The West Wing/Os Homens do Presidente” (1999-2006), Sorkin arrebatou um Óscar (melhor argumento adaptado) pelo seu trabalho em “A Rede Social” (2010), a obra-prima de David Fincher sobre Mark Zuckerberg e as origens do Facebook.
Pois bem, em 2017 Sorkin estreou-se, brilhantemente, na realização com “Jogo da Alta-Roda”, um retrato íntimo de Molly Bloom, uma esquiadora que, na sequência de um acidente, viu destruído o seu sonho de chegar aos Jogos Olímpicos, acabando por se transformar numa empresária de sucesso. A certa altura, como organizadora de jogos de poker num salão de Los Angeles, a sua actividade atraiu muitas figuras, não apenas do “entertainment”, mas também do mundo dos negócios… Até que o FBI começou a suspeitar que os jogos podiam ser uma fachada para movimentos suspeitos de avultadas quantias de dinheiro…
O título original do filme é “Molly’s Game”, o mesmo do livro que lhe serve de base, escrito pela própria Molly Bloom. Quer isto dizer que estamos perante um relato íntimo de um caso que mobilizou a opinião pública americana — para lá das peripécias policiais do enredo, esta é, de facto, uma história sobre a verdade e a mentira, a circulação do dinheiro e as formas perversas do seu poder.
Com um rigor eminentemente clássico, Sorkin assina um filme surpreendente em que as vibrações do “thriller” nunca anulam, bem pelo contrário, a complexidade humana das personagens. A começar, claro, pela própria Molly interpretada por Jessica Chastain, uma das mais admiráveis actrizes (americanas ou não) do cinema contemporâneo — recorde-se que, em 2022, ela viria a ganhar o Óscar de melhor actriz com “Os Olhos de Tammy Faye”.