Cultura

Um herdeiro de Marlon Brando?

Paul Mescal é um caso sério de talento e versatilidade: já foi nomeado para um Óscar e, agora, ganhou um Prémio Olivier do teatro britânico.

Paul Mescal em "Aftersun": uma composição que valeu uma nomeação para o Óscar de melhor actor

João Lopes

O título desta crónica é enganador. Em boa verdade, não é possível conhecer a história do cinema — com natural destaque para a história do cinema americano na segunda metade do século XX — sem ter em conta que ninguém está só na sua relação com uma determinada herança artística. Muitos dos mais talentosos actores e actrizes das últimas décadas são herdeiros de uma conjuntura — o nascimento do Actors Studio — de que, como bem sabemos, Marlon Brando (1924-2004) foi um fundamental protagonista.

Acontece que, por vezes, encontramos um nome que podemos acrescentar a essa galeria de eleitos. Quem, por exemplo? O jovem actor irlandês Paul Mescal que completou 27 anos no passado dia 2 de fevereiro.

Há uma razão muito directa para o destacarmos. Assim, no domingo, dia 2 de abril, nos Prémios Olivier (Olivier Awards) do teatro britânico, Mescal foi distinguido como melhor actor pela sua interpretação de Stanley Kowalski na peça "Um Eléctrico Chamado Desejo", de Tennessee Williams, encenada por Rebecca Frecknall, em Londres, no Almeida Theatre.

Recuamos a 1947, aquando da estreia absoluta da mesma peça na Broadway e quem encontramos no papel de Kowalski? Marlon Brando, justamente. Sem esquecer, claro, que Brando retomaria a personagem na versão cinematográfica realizada, quatro anos mais tarde, pelo grande Elia Kazan (um dos fundadores do Actors Studio que tinha dirigido a sua representação em palco).

Uma carreira não se faz de "paralelismos" deste género, por mais sugestivos que possam ser. O certo é que, em poucos anos, Paul Mescal se tem revelado um caso muito especial de talento e versatilidade. E com reconhecimentos que estão longe de ser banais: ganhou um BAFTA pelo seu trabalho na série Normal People (2020) e já este ano foi um dos nomeados para o Óscar de melhor actor graças à sua composição de um jovem pai a tentar criar laços mais fortes com a sua filha em "Aftersun", drama de muitas subtilezas que marcou a estreia na longa-metragem da escocesa Charlotte Wells.

Enfim, o mínimo que se pode dizer é que em tempos de tantas "personagens" digitais, nem sempre um primor de imaginação, é bom observar a renovação geracional da nobre arte de representar, num palco, frente a uma câmara… ou ainda no cenário vertiginoso de um teledisco. Um teledisco? Exactamente! Vejam a canção "Scarlet", lançada pelos Rolling Stones no verão de 2020 — e descubram o futuro vencedor de um Prémio Olivier.

Últimas