Cultura

Coppola, cineasta marginal

Quase a completar 84 anos de idade, Francis Ford Coppola está a rodar um novo filme: chama-se “Megalopolis” e será totalmente pago pelo próprio cineasta.

Rodagem de "Os Marginais": Coppola com S. E. Hinton, autora do livro, e o actor C. Thomas Howell

João Lopes

Foi no dia 25 de março de 1983 que se estreou nos EUA o filme "The Outsiders", de Francis Ford Coppola — passaram-se, portanto, 40 anos sobre o lançamento da belíssima adaptação do romance homónimo de S. E. Hinton, encenando a rivalidade de dois gangs de jovens num clima de angústia colectiva, alheamento entre gerações e muitas formas de solidão. O seu elenco era dominado por uma galeria de quase estreantes, incluindo C. Thomas Howell, Matt Dillon e Tom Cruise… Chegaria aos ecrãs portugueses cerca de um ano mais tarde, em abril de 1984, com o título "Os Marginais".

Com ironia ou sem ela, podemos dizer que o adjectivo ("marginal") se aplica ao próprio Coppola, ainda que de forma paradoxal e ambígua. Por um lado, é verdade que, com "O Padrinho" (1972) e "O Padrinho - Parte II" (1974), ambos vencedores dos Óscares dos respectivos anos de produção, ele se afirmara no coração de Hollywood como uma das figuras emblemáticas dos chamados "movie brats", revelados na década anterior (Scorsese, De Palma, etc.). Por outro lado, não é menos verdade que, depois do aparatoso falhanço comercial desse maravilhoso musical que é "One from the Heart/Do Fundo do Coração" (1982), Coppola viveu, no plano artístico, uma travessia do deserto de que "Os Marginais" foi, justamente, o primeiro resultado — seguiu-se, aliás, outra crónica sobre atribulações juvenis, "Rumble Fish/Juventude Inquieta" (1983), também baseado num livro de S. E. Hinton.

Estas memórias cruzam-se com notícias recentes sobre o seu novo filme intitulado "Megalopolis". Caracterizado pelo próprio Coppola como uma "história de amor num cenário futurista" (entrevista à revista "GQ", 17 fev. 2022), a sua produção foi sendo adiada ao longo de muito tempo — 40 anos! —, já que nunca nenhum estúdio quis arriscar no respectivo financiamento.

Resumindo: Coppola decidiu assumir-se produtor, avançando para "Megalopolis" com o seu próprio dinheiro. O filme deverá custar 120 milhões de dólares (contas redondas: 112 milhões de euros) e está em plena rodagem, apesar de algumas atribulações com elementos da equipa técnica relatadas por outras notícias.

Se o elenco de um filme também pode ser um revelador da sua ambição, então "Megalopolis" será, de facto, algo de exuberante. Assim, na lista de intérpretes contratados por Coppola encontramos os nomes de Aubrey Plaza, Adam Driver, Laurence Fishburne, Dustin Hoffman e Jon Voight. Quando poderemos vê-lo? Ninguém sabe, mas aos 83 anos (84 no dia 7 de abril), Coppola continua a merecer a nossa fidelidade cinéfila.

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