Cultura

Sessão de Cinema: "O Importante É Amar"

Assinado por um nome célebre do cinema polaco, este filme de 1975 valeu a Romy Schneider um César de melhor actriz.

Romy Schneider, dirigida por Andrzej Zulawski, num dos papéis mais fortes da sua carreira

João Lopes

O menos que se pode dizer da obra do cineasta polaco Andrzej Zulawski (1940-2016) é que se trata de cinema adulto e para adultos, contendo os elementos necessários e suficientes para dividir profundamente os seus espectadores, suscitando paixões tão fortes quanto desencontradas. Saudemos, por isso, uma hipótese de (re)descoberta, ou seja, a presença de um dos seus títulos mais famosos numa plataforma de streaming: “O Importante É Amar”, produção de 1975 que valeu a Romy Schneider (1938-1982) um César de melhor actriz.

O mais tradicional resumo tem que ver com os mecanismos, também eles tradicionais, de um triângulo amoroso: Nadine (Schneider), casada com Jacques (Jacques Dutronc) é uma actriz frustrada, com uma carreira em filmes medíocres, que conhece o fotógrafo Servais (Fabio Testi); Servais envolve Nadine numa encenação de “Ricardo III”, de Shakespeare, daí nascendo um laço amoroso que vai abalar a vida conjugal da actriz e, no limite, todo o seu equilíbrio emocional…

Semelhante sinopse poderá sugerir atribulações psicológicas mais ou menos previsíveis, mas o cinema de Zulawski é tudo o que se quiser, menos convencional. A matéria principal das suas encenações é essa energia contraditória em que cada personagem vive, num ziguezague permanente entre as normas “naturais” de comportamento e o carácter insondável dos desejos de cada um — e, nessa medida, entre a teatralidade das formas de representação e a verdade afectiva que essa representação pode conter.

Escusado será dizer que tal visão se apresenta inseparável do trabalho dos intérpretes. Romy Schneider, em particular, tem aqui uma das suas composições mais complexas, apresentando-nos uma mulher que não “encaixa” em nenhum estereótipo, seja ele dramático, social ou moral — as polémicas que o cinema de Zulawski sempre gerou justificam, pelo menos, que descubramos as singularidades da sua visão.

Netflix

Últimas