Eis uma curiosa lista de filmes atualmente em cartaz, disponíveis em sala ou em alguma plataforma de streaming: "Os Fabelmans", o melodrama autobiográfico de Steven Spielberg; "Babylon", evocação de Hollywood no período de advento do som, assinada por Damien Chazelle; "Ruído Branco", a adaptação do romance de Don DeLillo por Noah Baumbach; "Ossos e Tudo", uma fábula sobre canibalismo realizada por Luca Guadagnino; "Nope", o ensaio filosófico de Jordan Peele em registo de filme de terror…
Podemos envolvê-los numa pergunta de algibeira: que há de comum entre estes cinco títulos? Dir-se-ia que a lista é tanto mais interessante quanto nela encontramos, precisamente, propostas profundamente individuais, bem distintas umas das outras… O certo é que os filmes citados partilham uma opção técnica de que pouco se fala. A saber: foram todos rodados em película — e com resultados francamente excecionais.
Quem recorda tal coincidência no seu site oficial é o próprio fabricante das películas utilizadas, ou seja, a Kodak. Aliás, a lista inclui também alguns títulos ainda não estreados ou que, pelo menos, não chegaram às salas portuguesas: é o caso de "Oppenheimer", a nova superprodução de Christopher Nolan, com lançamento mundial agendado para o mês de julho, ou "To Leslie" (cujo trailer se pode ver aqui em baixo), o filme de Michael Morris que valeu uma nomeação a Andrea Riseborough, na categoria de melhor atriz, nos Óscares a atribuir a 12 de março.
Quer isto dizer que, depois do boom dos formatos digitais ter "decretado" o fim da película, a própria indústria e os seus criadores voltaram atrás, fazendo renascer a película? Não exatamente, quando mais não seja porque, na prática, a utilização da película nunca desapareceu. Acima de tudo, podemos deduzir que alguma resistência ao digital formulada por autores de grande peso simbólico e financeiro (penso nos casos de Spielberg ou Martin Scorsese) gerou, finalmente, um novo equilíbrio.
Dito de outro modo: não se trata de escolher entre "película" e "digital", virando uma opção contra a outra. Trata-se, isso sim, de reconhecer o valor da diversidade de alternativas para as imagens cinematográficas — até porque, convém não esquecer, a utilização conjugada de uma coisa e outra passou a ser frequente em muitos filmes, nomeadamente no período de pós-produção.
Ironicamente ou não, registe-se também um dado curioso, porventura intrigante, relativo aos cinco filmes citados no parágrafo inicial: nenhum deles está nomeado na categoria de melhor fotografia. Aliás, em boa verdade, os três últimos nem sequer obtiveram qualquer nomeação da Academia de Hollywood.