Para várias gerações de espectadores de teatro e cinema, Laurence Olivier (1907-1989) é “apenas” um dos monstros sagrados da arte de representar. Mas vale a pena lembrar que deixou também marcas importantes no domínio da realização cinematográfica, incluindo algumas adaptações de William Shakespeare e também essa deliciosa comédia romântica, em que contracena com Marilyn Monroe, que é O Príncipe e a Corista (1957).
Graças ao streaming, podemos reencontrar uma das suas realizações mais ambiciosas, adaptando Três Irmãs, porventura a peça mais universal de Anton Chekhov. Trata-se de um filme que, sem surpresa, vive antes de tudo o mais da notável qualidade do respectivo elenco. Assim, além do próprio Olivier, encontramos Derek Jacobi e Alan Bates, e ainda Jeanne Watts, Joan Plowright e Louise Purnell, respectivamente como Olga, Masha e Irina.
O drama das três irmãs, a viver muito longe de Moscovo, numa incurável nostalgia, renasce assim como um fascinante painel das paixões humanas. Respeitando a estrutura original da peça, Olivier opta por um estilo de filmagem sóbrio e austero que visa, antes de tudo o mais, a exposição das nuances dos comportamentos humanos e, nessa medida, a valorização do trabalho dos intérpretes.
Com data de 1970, seria a derradeira realização cinematográfica de Olivier. Na sua origem está a encenação, e também os actores, que ele próprio dirigira, três anos antes, no Royal National Theatre. A excelência da produção tem uma componente vital na direcção fotográfica de Geoffrey Unsworth (1914-1978), ele que, dois anos antes, assinara as imagens de “2001: Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick.