Cultura

Sessão de Cinema: “Pedro, o Louco”

Uma das grandes referências clássicas do tempo da Nova Vaga francesa, com assinatura de Jean-Luc Godard, passou a estar disponível numa plataforma de streaming.

Jean-Paul Belmondo em "Pedro, o Louco": memórias dos tempos heróicos da Nova Vaga francesa

João Lopes

É bem verdade que, mais do que nunca, importa defender as salas de cinema. Importa, sobretudo, não banalizar o facto de a passagem de um filme num grande ecrã ser um momento insubstituível da sua existência. Ao mesmo tempo, não é menos verdade que as plataformas de streaming passaram a existir como uma importante alternativa de conhecimento cinéfilo. Como? Por exemplo, permitindo-se reencontrar (para muitos espectadores, será mesmo uma descoberta absoluta), títulos com indiscutível estatuto clássico. É o caso, agora, de “Pedro, o Louco”.

Lançado em 1965, este “Pierrot le Fou” foi restaurado em 2015, meio século depois de ter entrado na história como bandeira da invenção e do gosto de experimentação da obra de Jean-Luc Godard (n. 1930) e, mais do que isso, como uma espécie de derradeiro símbolo da Nova Vaga francesa.

Com Anna Karina, então casada com Godard, e Jean-Paul Belmondo, na altura um dos nomes mais populares da produção francesa, “Pedro, o Louco” segue as aventuras e desventuras de um casal que atravessa as paisagens francesas, tendo como pano de fundo uma história mais ou menos policial. O resultado tem qualquer coisa de requiem romântico: Godard filma os seus anti-heróis como personagens de um tempo histórico, indissociavelmente cinéfilo, em que a utopia da aventura vai sendo vencida pelos valores mercantis daquilo que, na altura, se designava como “sociedade de consumo”.

Da luminosa direcção fotográfica de Raoul Coutard à banda sonora composta por Antoine Duhamel, “Pedro, o Louco” ficou como uma experiência de paradoxal fascínio: Godard afirmava um cinema de sensibilidade eminentemente francesa, ao mesmo tempo marcado pela herança dos autores clássicos de Hollywood. Pormenor curioso: um desses autores, Samuel Fuller (1912-1997), surge numa cena, assumindo o seu próprio papel.

Filmin

Últimas