Cultura

Bob Dylan, cinematograficamente

No dia em que Bob Dylan faz 80 anos, vale a pena lembrar que a sua presença no cinema está longe de ser secundária — do documentário à ficção, passando pela composição de bandas sonoras.

1965, rodagem de "Dont Look Back": D. A. Pennebaker filma Bob Dylan

João Lopes

24 de maio de 2021: no dia em que Bob Dylan celebra 80 anos, vale a pena recordar que a sua prodigiosa trajectória musical e literária nunca foi estranha ao mundo do cinema. Desde logo porque, em 1965, o cineasta americano D. A. Pennebaker (1925-2019) filmou a sua mítica digressão britânica — quando começou a ser contestado pela utilização de guitarras eléctricas, contrariando a tradição mais austera da folk —, dando origem a um dos títulos de culto do documentarismo musical: “Dont Look Back” (apenas estreado em 1967, entre nós lançado como “Eu Sou Bob Dylan”).

Para as gerações mais novas de espectadores, Dylan será sobretudo conhecido através dos filmes que sobre ele realizou Martin Scorsese: primeiro, “No Direction Home” (2005), não apenas um retrato biográfico, mas também uma dissertação sobre o lugar do cantor/compositor na história da cultura popular “made in USA”; depois, “Rolling Thunder Review” (2019), a meio caminho entre documentário e ficção, evocando uma célebre digressão de 1975 em que também estiveram presentes, por exemplo, Patti Smith, Joan Baez e Joni Mitchell. Aliás, Scorsese já tinha filmado Dylan em “A Última Valsa” (1978), outro título lendário nas relações do cinema com o universo do rock, registando aquele que foi o derradeiro concerto de The Band.

Porventura menos conhecido é o seu capítulo de compositor para bandas sonoras de filmes. O exemplo mais “esquecido” será, por certo, o de “Pat Garrett & Billy the Kid/Duelo na Poeira” (1973), notável “western” assinado por Sam Peckinpah: Dylan assina a música do filme (incluindo o tema “Knockin’ on Heaven’s Door”), participando também como intérprete.

Importa, sobretudo, destacar a sua participação em “Wonder Boys - Prodígios” (2000), um sofisticado melodrama assinado por Curtis Hanson, centrado nas atribulações de um professor universitário, interpretado por Michael Douglas. Dylan contribuiu com um tema original, “Things Have Changed”, e ganhou o Oscar de melhor canção [video]. No momento da cerimónia da Academia de Hollywood, a 25 de março de 2001, Dylan andava em digressão pela Austrália, tendo aceitado o prémio (e interpretado a canção) via satélite.

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